terça-feira, 16 de outubro de 2007

Ode ao desencanto

Quando era adolescente em uma consulta médica, a louca loira que não parava de tentar consertar seu colar de miçangas, me dizia que antes de nos entregarmos a alguém precisamos conhecer esta pessoa em diversas situações: odiando, raivosa, frustrada, falindo, viajando, enfrentando a morte de um ente, sorrindo, entre outros: foram, pelo que me recordo, aproximadamente uns trinta minutos de ladainha. Deduzi, na época, que precisaria namorar uns trinta anos e talvez nunca me sentiria pronta a entregar minha flor (como diria a Monica do seriado Friends) a alguém.

Como a intenção não é fazer apologia à manutenção ou não da virgindade e sim questionar o quanto as pessoas se permitem conhecer em uma relação, mudemos de assunto. Já que somos como icebergs e só mostramos aos outros uma pequena parte do que somos, o quanto do restante poderá ser descoberto com o tempo, ou não? A questão é que as vezes não queremos mostrar essa parte e também estamos impossibilitados de mostrar a integralidade já que nem ao menos temos (cons)ciência da mesma, segundo a Psicologia, é claro.

Gosto muito do filme Closer – Perto Demais de Mike Nichols, que trata do quanto o afeto está cada vez menos valorado nas relações contemporâneas que exigem do parceiro um comportamento adequado e um pouco de sexualidade, apenas. A moça da imagem é um dos personagens do filme, os quais estão presos uns aos outros, mesmo que na verdade saibam que “aquilo” nunca será o que realmente sonham. Os quatro personagens, absorvidos com a satisfação de seus próprios egos, acabam percebendo que o sexo e a formalização de um relacionamento “estável” não necessariamente significam a verdade ou a cumplicidade. Recomendo.

Ode ao desencanto:

Você nunca me viu irada, não imagina como sou quando tenho ódio, não conhece meu lado vingativo e nem desconfia como sou quando fracasso ou me decepciono. Você desconhece o quanto sou ignorante de muitos assuntos e quanto sei de outros que nunca importaram a você. Não sabe como sou amiga das pessoas que amo pois não teve a oportunidade de ver ou ainda não soube interpretar algumas poucas vistas.

Não soube que fui fiel à possibilidade de concretização de seus planos mesmo não tendo os meus ou sabendo que teria que me adequar já que não eram os mesmos que os meus. Não desconfia que significou a mudança tão almejada e mais uma vez desperdiçada pela dureza de meu peito. Não sabe que dentro da complexidade do meu ser há uma simplicidade incondicional de potencial amor. Não sabe, não pôde ou quis saber, e jamais saberá.

Para piorar você nunca entenderá Caetano pelos dois motivos os quais, esses, você conhece.

You Don't Know Me
Do disco TRANSA de Caetano Veloso

You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There’s nothing you can show me
From behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall

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