quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Ainda é carnaval, mas as cinzas chegaram finalmente!


A dominação cultural romana trouxe à antiga Europa o Latim que em cada região deu origem a uma língua diferente como Francês, Espanhol, Italiano, Romeno e a divina Língua Portuguesa, falada em oito países de diferentes continentes. Agradecemos então aos nossos colonizadores, mas principalmente aos povos indígenas e africanos que permitiram a existência do “português do Brasil” e seus distintos sotaques e dialetos: maravilhosos! Possuir o Português como idioma é deleitar-se no prazer de possuir brasileiros na mesma relação de clássicos em que se encontra Camões; é poder ler Saramago sem traduções; é viver com o saber a saudade e o luar (palavras que não possuem tradução em outros idiomas) e ainda poder dizer, mesmo possuindo um inglês macarrônico: como é simples a gramática dessa língua!

Não sei quanto custa um desfile de escola de samba, mas admito que, por alguns instantes, esqueci meu lado crítico e me deliciei mais uma vez com o enredo da Mangueira. Não sei se é o apoio que essa escola recebe dos grandes artistas da música brasileira que a faz tão feliz. O samba desse ano “Minha Pátria é minha língua. Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor” é uma homenagem aos brasileiros e seu idioma tão linda quanto a canção “Língua” de Caetano Veloso. Ah...Lácio é a região onde se originou o latim.

Um pouco do português de Portugal: seguem abaixo os textos acima referidos para vossa apreciação.



Língua - Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Minha pátria é minha língua,Mangueira meu grande amor.
Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor.
COMPOSITORES: LEQUINHO, JÚNIOR FIONDA, ANIBAL E AMENDOIM DO SAMBA.

QUEM SOU EU?
TENHO A MAIS BELA MANEIRA DE EXPRESSAR
SOU MANGUEIRA... UMA POESIA SINGULAR
FUI AO LÁCIO E NOS MEUS VERSOS CANTO À ÚLTIMA FLOR QUE ESPALHOU POR VÁRIOS CONTINENTES

UM MANANCIAL DE AMOR
CARAVELAS AO MAR PARTIRAM
POR DESTINO ENCONTRARAM O BRASIL...NOS TRAZENDO A MAIOR RIQUEZA
A NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA
SE MISTUROU COM TUPI TUPINAMBRASILEIROU
MAIS TARDE O CANTO DO NEGRO ECOOU
ASSIM A LÍNGUA SE MODIFICOU

EU VOU NOS VERSOS DE CAMÕES
ÀS FOLHAS SECAS CAÍDAS DE MANGUEIRA
É CHAMA ETERNA DOM DA CRIAÇÃO
QUE FALA AO PULSAR DO CORAÇÃO
CANTANDO EU VOU
DO OIAPOQUE AO CHUÍ OUVIRA MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
IDOLATRADA OBRA-PRIMA TE FAÇO IMORTAL
SALVE... POETAS E COMPOSITORES
SALVE TAMBÉM OS ESCRITORES
QUE ENRIQUECERAM ATUA HISTÓRIA
Ó MEU BRASIL...DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL
HOJE A HERANÇA PORTUGUESA NOS CONDUZÀ ESTAÇÃO DA LUZ

VEM NO VIRA DA MANGUEIRA VEM SAMBAR
MEU IDIOMA TEM O DOM DE TRANSFORMAR
FAZ DO PALÁCIO DO SAMBA UMA CASA PORTUGUESA
É UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

É carnaval........


No país vice-campeão em desigualdade social o que mais chama atenção é o samba, a alegria e a orgia. Janeiro é o mês de férias, praticamente nada funciona e as coisas continuam deixando de funcionar ate março porque em fevereiro tem carnaval...feriado prolongado...somos um povo feliz e hospitaleiro.

Hoje precisei levar meu carro (que por sinal é do mesmo modelo do carro que um bloco de playboys da cidade destruiu para desfilar na avenida, segundo me disseram) à oficina e ela estava fechada. O feriado não é amanhã? Não, o feriado é o trimestre inteiro e se você precisar de seu carro para trabalhar, sinto muito, trabalho só depois da quarta-feira! Na verdade acho que deveria arrancar o motor, cortar a lataria, colocar uma roupa listrada e entrar para o bloco dos “nematelmintos” também.

Lembrei de Vinicius de Moraes cantado Carlinhos Lyra e estou muito satisfeita em saber que a quarta-feira chegará em breve. Depois da data das cinzas continuará havendo o funk, o pagode e a música sertaneja, mas ao menos o expediente também existirá.


MARCHA DA QUARTA FEIRA DE CINZAS (Carlos Lyra)


Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções

Ninguém passa mais brincando feliz

E nos corações saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê

Que nem se sorri, se beija e se abraça

E sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantarMais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar

Todos vão sorrir, voltou a esperança

É o povo que dança, contente da vida feliz a cantar

Porque são tão tantas coisas azuis, há tão grandes promessas de luz

Tanto amor para amar que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais

Com a beleza dos velhos carnavais

Que marchas tão lindas

E o povo cantando seu canto de paz

A Pedagogia da Libertação Primaverense


Paulo Freire revolucionou os conceitos educacionais sugerindo práticas que ficaram conhecidas como a Pedagogia da Libertação. Estas, de suma importância para a desejada mudança social e para a construção do pensamento crítico, tão necessário aos países em desenvolvimento. Para ele, a tarefa do educador deve ser a de problematizar para os educandos o conteúdo que os mediatiza e não entregá-lo como algo já feito, acabado.

Ele foi criador e defensor de uma pedagogia crítica, considerada perigosa em 1964, ano em que vivíamos o período ditatorial no país. O governo de então não aceitava esse conceito porque não admitia cidadãos livres e conhecedores de seus direitos. A democracia e a educação sempre foram princípios cotidianos na população de nosso município. Primavera do Leste sempre se destacou pela harmonia política, pela qualidade de vida e serviços oferecidos aos seus munícipes. O que está acontecendo? Crianças sem transporte público, acadêmicos privados de seus direitos, processos eleitorais banidos do sistema educacional, além do desrespeito à Lei Orgânica Municipal. Os primaverenses decidiram que a ditadura é o sistema adequado ao seu projeto de futuro?

Em março fará um ano que os acadêmicos da UFMT foram obrigados a abandonar planos, empregos e seus lares e, literalmente, acampar na prefeitura municipal para exigir um direito adquirido. Esses transtornos foram ocasionados pela maneira autoritária que o executivo municipal tem tratado dos interesses da população, principalmente no que se refere à educação. Se houvesse um plebiscito sobre a assinatura de novos convênios entre a Universidade Federal e o Executivo Municipal, certamente os trabalhadores e as famílias de Primavera do Leste votariam a favor, da mesma forma como sempre valorizaram seu direito de eleger quem dirigiria sua escola ou a escola de seus filhos. Mesmo sendo esse o desejo de toda a população, percebemos que as iniciativas de nosso representante nos estão levando a uma direção oposta.

Venho aqui com o intuito de convidar a população a questionar quais ações devemos tomar para evitar que cada vez mais os cidadãos sejam alijados do processo educacional público e de qualidade e, principalmente, do respeito aos seus direitos. Existe legitimidade e legalidade do poder. Quando a imposição de direcionamentos pessoais suprime a democracia o líder recebe ainda legitimidade? Pois legalidade, estamos interpretando que já não há.