quinta-feira, 10 de julho de 2008

Quando há simbiose entre imprensa e justiça

Como bom tupiniquim, o bisbilhoteiro Daniel Dantas, baiano, 45 anos, engenheiro, um dos mais brilhantes banqueiros do País, é homem politizado e costurou ótimas relações com o PFL e com os tucanos, através de seu conterrâneo Antônio Carlos Magalhães. Assim, fundou o Banco Opportunity que objetivava participar das privatizações de FHC.

Muito me surpreendi ao ler a manchete: Daniel Dantas está vendo o sol quadrado! A admiração não é sabê-lo criminoso, sobretudo porque estou acompanhando o caso desde 2000. O que me pasma são duas coisas: ver e ler seu nome na imprensa e a justiça ter agido. Não que eu deixe de respeitar a imprensa e a justiça brasileiras, mas no caso de Dantas ambas estavam meio que, por assim dizer, aparentemente silenciosas.
Interessante como a grande imprensa lida com a situação. Como conseguem anunciar o óbvio há muito descrito pelos zines e imprensa alternativa sem justificar seu descaso por oito anos? O que o Supremo tem a justificar a respeito do solta-e-prende alguém já julgado em tribunais do exterior?

O banqueiro e sua cúpula foram presos em uma operação da Polícia Federal, denominada Satiagraha. Além de dele, a ação da PF também prendeu o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. A operação é o ponto final de investigações que remontam ao esquema de desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro que seria comandado pelo publicitário Marcos Valério.

Para que o leitor deste artigo entenda minha indignação resumirei as notícias num breve histórico. Em 2000, houve fitas gravadas que denunciavam o um dos mais complexos caminhos dos quais percorrem o dinheiro brasileiro. Colaboradores do Banco Opportunity, encontram-se par discutir aplicações do mesmo que não pagava imposto de renda e era isento da então CPMF. Isso tudo porque a equipe econômica do governo federal, tem o objetivo de favorecer o ingresso no País dos capitais indispensáveis para fechar as combalidas contas externas brasileiras, em detrimento do incentivo à agricultura, por exemplo, que para exportar sua produção precisa comer o pão que Daniel, quero dizer, Diabo amassou. O detalhe é que essas regras não valem para investidores nacionais, que eram o caso então existentes no Opportunity Fund: Daniel Dantas, Pérsio Arida(ex presidente do BC), Verônica Rodenburg Dantas. Nessa época, foram, iniciadas as investigações que levaram ao complicado labirinto societário: Opportunity Fund, administrado pelo Banco ABN Amro, foi constituído pela Opportunity Asset Management Ltda., uma empresa baseada nas Ilhas Cayman, e por isso regida pelas leis locais. Por sua vez, a Opportunity Asset Management é uma subsidiária da empresa brasileira Santa Luiza Comercial e Participações Ltda., de propriedade da Dantas. Mas, como a Santa Luiza não é uma empresa financeira, não cabe ao Banco Central fiscalizar suas atividades. Opportunity Fund é vinculado ao Grupo Opportunity e não ao Banco Opportunity, duas entidades que, oficialmente, não têm vinculações entre si. Por isso, a fiscalização do Opportunity Fund está fora da alçada do BC, e talvez por isso ele estivesse envolvido com a privatização da Vale do Rio Doce, do metrô do Rio e do Porto de Santos. É, também, um dos acionistas do site de Internet gratuito iG. Para esclarecer também, cito que os consórcios organizados pelo Opportunity acabaram levando a Tele Centro Sul (hoje Brasil Telecom), a Telemig Celular e a Tele Norte Celular, que gerou diversos escândalos sobre grampos, mas que não afetaram os negócios de Daniel, que conseguiu o controle absoluto sobre as telefônicas, apesar de ter injetado apenas 0,36% do capital no momento da privatização.

Os contatos políticos no Brasil e a retaguarda do Citibank permitiram ao mesmo brigar com os fundos de pensão, a canadense TIW, a Telecom Italia, investidores nacionais e estrangeiros. Tudo pelo controle de empresas telefônicas avaliadas em mais de R$ 15 bilhões. Mas em 2005 indícios demonstram que Dantas, administrador dos recursos do Citi aplicados na telefonia, estaria ficando frágil, sendo que a parceria com o Opportunity não seria mais prorrogada. Seu poder de força é diminuído também no Brasil,quando um relatório parcial da Polícia Federal, produzido a partir de interceptações telefônicas autorizadas e documentos apreendidos durante a Operação Chacal, em outubro de 2004, aponta o banqueiro como líder e mentor de uma “quadrilha” de espionagem internacional com vários elementos caracterizadores (existência de quadrilha, inobservância de fronteiras, previsão de lucros, hierarquia, planejamento empresarial, divisão de trabalhos, ingerência no poder estatal e compartimentação). Detalhe: os policiais chegaram lá investigando as supostas fraudes cometidas pela Parmalat, quando esbarraram na espionagem ilegal da empresa americana Kroll, a mando de Dantas e Carla Cico, presidente da Brasil Telecom. A partir daí, perceberam o quão elevado é o nível de curiosidade do baiano, cujo intuito era espionar executivos da Telecom Italia e futuros integrantes do governo federal, entre eles Luiz Gushiken, secretário de Comunicação, e Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil.

Daremos um salto no tempo: chegamos ao mensalão, no qual a secretária do publicitário Marcos Valério de Souza e o deputado Roberto Jefferson estão com ibope. Não seria surpresa se, ao longo das apurações, a CPI dos Correios e a Polícia Federal encontrassem elos entre a secretária e a maior disputa societária da história do capitalismo nativo. Em 2004, Valério foi procurado por Dantas. O banqueiro tentava uma aproximação com o governo federal e uma forma de neutralizar a resistência do secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, aliado dos fundos de pensão na briga pelo controle de empresas de telefonia avaliadas em cerca de R$ 15 bilhões. Em troca, o dono do Opportunity entregou à DNA, uma das agências do publicitário, as contas da Telemig Celular e da Amazônia Celular.
Já estamos em julho de 2008 e Dantas nega ter contratado a empresa americana Kroll para espionar desafetos e concorrentes, entre eles integrantes do governo Lula. Dantas negou ainda ter sido achacado por integrantes do PT e que tenha produzido um dossiê com supostas contas de autoridades brasileiras no exterior. O banqueiro se disse vítima de uma conspiração a envolver o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa. Logo ela, que só agora se manifestou!

Quando nosso bisbilhoteiro resolveu investigar o PT acabou chegando em Celso Daniel, prefeito de Santo André, morto em 2002. Já com os tucanos descobre-se Jereissati e uma suposta ligação de FHC com espanhóis. Ele foi preso, Gilmar Mendes do superior tribunal (as letras minúsculas são intencionais) solta-o um dia depois e, em menos de 12 horas, novamente é pres. Impressionante como é rápido o sistema judiciário, não? E agora toda a imprensa esta focada em denunciar seus enjoativos escândalos.
Que Deus proteja o povo brasileiro: justiça falha e tarda. Imprensa esconde e tarda também.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Like a rolling stone

“Nunca crie nada! Você será eternamente perseguido por isso!” Dylan- Rimbaud

Escrever uma vida é complexo, filmar uma existência é praticamente impossível. Quando se trata da história de um artista, gênio ou afins, nem se comenta. Mas quando outro ser dotado de características e sensibilidade como o homenageado é o responsável pela biografia, podem surgir pérolas de tamanha intensidade que valem um registro nesta Oficina. Estou dedicando este texto a duas pessoas: um querido amigo que me enviou uma música de Dylan em mp3 há um tempo, e que acabou gerando a curiosidade de pesquisar o mesmo e resultou na publicação desta pesquisa; a ao próprio Dylan e sua vida única. Foram as incertezas e transformações de sua existência que pendulam entre sucesso e ocaso, que fazem de sua história um interessantíssimo filme.


Bob, autodidata (aos 10 anos já compunha e tocava violão e piano por conta própria); teve fase cantor folk de sucesso (que serviu como instrumento de protesto); foi rockstar e maníaco religioso. E em todas essas situações, Bob Dylan foi ímpar, e o diretor escolheu atores distintos para dar novo rosto e nova vida ao protagonista.


Desta forma vemos um garoto negro representando os primeiros passos do compositor que acaba engolido por uma baleia e descobre deveria cantar o seu tempo e as suas dores. O cantor folk ganha companhia de Juliane Moore , na fase em que o compositor tornou-se "a voz do povo". Nesta fase do documentário, há fotos imitando os primeiros discos e fotos públicas de Dylan: muito bom!


Sobretudo, chamou-me a atenção o alter-ego do cantor, autodenominado como Rimbaud, um dos grandes poetas da humanidade. Há também a fase roqueira e seus shows polêmicos, sua turnê inglesa e o acidente de moto que o fez dar um tempo da estrada. Esta fase também é marcada pelo mesmo em caixões, que devem representar seus momentos sem gravações ou aparições. Deve ser nestas fases que o outro personagem, o Sr. Robert Allen Zimmerman (nome verdadeiro de Dylan) vive intensamente seu casamento mais longo.

E por fim, vemos Richard Gere, num Bob que vive em uma cidade imaginaria e a defende de um extermínio brusco, em troca da construção de uma estrada (bem big-bang). Todos eles se misturam em um tempo extremamente psicológico que encantam e nos fixam à telinha, merecidamente recebendo indicação ao Óscar.

Entre encontro maluco com os Beatles e a frase escrita no violão: Essa máquina mata fascistas! Vemos um filme sensível e de bom gosto, muito bem dirigido e musicalmente trabalhado de forma sublime.