sexta-feira, 5 de março de 2010

Arquitetura



A respeito da perfeição do universo, fez-se maior minha percepção durante a visita a um amigo. Radical, o João, após uma conversa a respeito do segundo passeio sob a lua cheia no rio das mortes, levou-me ao seu quintal no qual se encontra um avião em construção.

Observando o avião, seu projeto, peças e moldes, o que mais me chamou atenção foram as carapuças das rodas. As mesmas têm formato de rabo de peixe, o qual diminui o atrito e permite aos pilotos mais manobras com maior velocidade. O atrito que naquele avião também será reduzido pois os parafusos (segundo ele rebites) são internos, fixados de forma a qual me foi explicada mas eu pouco entendi, mais ou menos com o mesmo intuito o qual os nadadores se depilam.

Lembrei dos dourados de Bonito/MS nadando fluidamente enquanto eu, com minha máscara idiota destoava do ambiente, aprimorando o que o ser humano tem como principal característica: o nada a ver com a magnitude do mundo. A sorte é que essa destreza é aproveitada de forma prazerosa, quase sempre. Um vôo de ultraleve ou um mergulho ao fundo do mar nos fazem obter uma mescla de emoção que certamente remete à memória genética de nossos átomos a maravilha de ser integrante da mãe natureza, do todo.

Como é bom sentir-se fluido. Sonhar. Sonhar que esta voando ou nadando então: literalmente um sonho! Diametralmente oposto ao cartesianismo dos engenheiros ao desenhar os instrumentos que destoam, que alienam. Sem apologia ao primitivismo ou naturalismo registro esta crítica à falta de percepção das essências, das lógicas que a matemática moderna não conseguiria desenvolver com a perfeição da evolução biológica das coisas. Deveríamos apreender mais as delícias sentidas pelo que os maçons costumam denominar o grande arquiteto do mundo. Perceba-se aqui a distinção entre arquitetura e desenvolvimento de máquinas.

"O que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe. Por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
Quem as algas apertam em teus braços?, perguntas mais firme que uma hora e um mar certos?
Eu sei perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando como o unicórnio do mar, arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de jóias, é infinita como a areia incontável, pura; e o tempo, entre uvas cor de sangue tornou a pedra lisa encheu a água-viva de luz, desfez o seu nó, soltou seus fios musicais de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu, investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento." Pablo Neruda