quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

As favelas da Bahia são lindas!!!!!!

Uma colega escreveu em sua monografia ao findar a faculdade de Turismo que férias são questão de qualidade de vida. Espero que ela tenha tratado também da qualidade das mesmas, e afirmo aqui que pude vivenciar as minhas da melhor maneira possível. Cheguei da Bahia e ainda sinto-me inebriada pelo ambiente do axé. Através da Neguinha, no poema postado ainda em Salvador, tentei fotografar palavras a respeito desta cidade, mas apenas agora de volta para casa, consegui focar na importância de escrever minha nova paixão.

Destaco que agora posso descrever melhor o que vi e senti, pois meu olhos estrangeiros influenciam-me menos aqui no meu quarto, embora já haja nele influências de lá. Da mesma forma que me apaixonei, uma amiga que me acompanhou pareceu-me detestar ou menos gostar de lá. Essas discrepâncias tornam ainda mais bela à canção de Caê que possibilita as bocas banguelas.

Foi acompanhada por bairristas soteropolitanos que conheci o Recôncavo e as críticas de Santo Amaro em relação à família Veloso. Foi lá que percebi o quão doce é o povo baiano e quão saboroso é o prato não preparado para o turista. Foi lá também que entendi que, mesmo para os católicos, a religiosidade não é culpa e sofrimento e sim, amor e alegria. Essa percepção foi fortalecida durante a Lavagem de Bonfim na qual os fiéis choram de comoção na Igreja que possui uma sala dos milagres capaz de desmoralizar qualquer espécie de ateísmo. Em relação à procissão, destaca-se que a mesma é acompanhada de cerveja, música, Filhos de Gandhi e muito sincretismo.

O mar quentinho, o pôr-do-sol da Barra, a areia fina, as ilhas, os coqueiros. Ah! Os coqueiros, encantadoras palmeiras! O azul esverdeado do mar e o povo moreno e forte “camaleando”. As belezas naturais não serão louvadas em meu texto, já que foi a questão cultural que me faz plagiar Arnaldo Jabor e afirmar que “A Bahia foi o lugar perfeito para a África chegar”. O baiano é povo trabalhador sim, mas não é povo estressado. É alegre, mas não afoito e desesperado. É calmo sem ser acomodado. São essas diferenças que nos encantam e nos transformam, fazendo com que as férias sejam análise e estopim para mudanças de hábitos e conceitos, incluindo os preconceitos no rol.

A pacífica convivência entre as diferentes classes sociais é apavorante no primeiro olhar, fascinante no segundo e óbvia no estender do tempo, o Tempo, este que é um deus para o povo em questão. O sincretismo religioso se encontra também, creio eu, na harmonia social e na multiplicidade cultural. Carnaval com DJ internacional; mar e praia ao som de Nirvana exalando de barraca protegida por carrancas; deus acessível aos humanos nos terreiros; a alegria e a dança nas esquinas e as oferendas: tudo isso são pequenas lembranças que servem como exemplo do que se respira por lá. Inevitavelmente a Bahia e seu povo foram citados e cantados não só pelos baianos, mas por todos os grandes compositores da música brasileira.

Encantada, volto para meu trabalho, amigos e família. Trago uma suavidade comigo, uma espécie de baiunidade que certamente me possibilitará alcançar mais rapidamente o equilíbrio desejado e tantas vezes citado nesta oficina. E já que naquela cidade todo mundo é de Oxum, que a bela Orixá me auxilie e acompanhe nesta proposta!
É d'Oxum - Gerônimo Santana

Nessa Cidade Todo Mundo É d'oxum
Homem, Menino, Menina, Mulher
Toda Essa Gente Irradia Magia
Presente Na Água Doce
Presente n'água Salgada
E Toda Cidade Brilha
Seja Tenente Ou Filho De Pescador
Ou Importante Desembargador
Se Der Presente É Tudo Uma Coisa Só
A Força Que Mora n'água
Não Faz Distinção De Cor
E Toda A Cidade É d'oxum É d'oxum,
É d'oxum, É d'oxum, Eu Vou Navegar,
Eu Vou Navegar Nas Ondas Do Mar,
Eu Vou Navegar
É d'oxum, É d'oxum

Estrangeiro (Caetano Veloso)

O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?

O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não encherga mesmo muito bem

Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora

Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)

E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:

"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:

É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú

E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Salvador














A respeito de minhas férias na Bahia uma poesia e uma foto.


Luz, para quem à espera do mar
Mesma cor e suor, para o lotação
Neguinha cá
Acarajé acolá

Os cheiros no pescoço e paladar
As cores da favela, copo sujo no balcão
Neguinha ri
Turista ali

Em Santo Amaro Canô e o Gênio
O pôr-do-sol da Barra, blues
O calabouço do Modelo, nus
A dor e falta de oxigênio
Ainda assim, cansa
Neguinha dança
Meu pai, branco e harmonia
Orixás e lança
Obaluaiê, infinita sabedoria
Ah Salvador
És de Neguinha amor e dor.