sexta-feira, 16 de março de 2007

Cumplicidade



Não pise nos segredos
Deixe seus pés e opinião
Longe do meu íntimo
A não ser que seus dedos
conheçam meu coração
Amiga, permito


quinta-feira, 15 de março de 2007

Transferência de energia entre matérias


Se a engenharia elétrica e a permanência da UFMT no município fossem coincidentes, meu carro teria os vidros mais limpos do mundo!

Hoje foi um dia agitado. Tanto no trabalho quanto na reunião ocorrida na Câmara Municipal a respeito da permanência da UFMT em Primavera do Leste, que será possível com a assinatura de novos convênios entre a Universidade e o Executivo Municipal.

Aos presentes, destacando a ausência do Executivo Municipal, apresentei dados de uma pesquisa realizada por nós, acadêmicos, sobre a demanda e viabilidade da instalação de 4 novas turmas no Campus de Pva do Leste, o que possibilitaria o acesso ao Ensino Superior à população de baixa renda. A ausência presencial e de justificativa do prefeito é lamentável. Aliás, já manifestei opinião a respeito do prefeito nesse blog em fevereiro com o texto A Pedagogia da Libertação Primaverense.

Também me lembro de ter comentado, em outro texto, que meu meio de transporte é um Corcel II e que ele necessita de cuidados médicos (mecânicos) com alguma freqüência. Acredito que a doença de hoje seja psicossomática e que após uma boa noite de descanso não tenhamos que realizar consulta no “hospital”. O fato é que, minutos atrás, ao sair da aula, liguei o limpador do pára-brisa para melhorar a visibilidade que estava comprometida pelo excesso de umidade e aproveito para destacar meu amor pelo clima de nossa região. Mudei novamente de assunto (meteorologia), mas peço humildemente que não desistam da leitura pois me comportarei no próximo parágrafo.

Limpadores foram ligados, visibilidade foi recuperada. Puxei a alavanca de desligar e eles continuaram de lá para cá, de cá para lá, ininterruptamente. Minha agitação foi transmitida ao veículo. Utilizando meu escasso conhecimento a respeito do esoterismo e da física quântica, conclui que o limpador não desligaria da mesma forma como meu desejo pela continuidade do Ensino Superior gratuito em minha cidade não encerrará desmotivado pela atitude de desprezo e falta de respeito do prefeito municipal Getulio Viana em sua ausência. Resta a certeza que a agitação e o stress do dia serão diminuídos após as oito horas de sono que seguirão a orientação: “seu computador pode ser desligado com segurança”, e a luta continua, sem segurança da resolução do impasse, apenas com esperança.

terça-feira, 13 de março de 2007

Inveja do concreto


A língua que amanhece grossa
O conhecimento erudito sobre a mesma
E a percepção sensível deste dia
Prometem
Você é capaz de escrever essa joça!


Seu cansaço
Conheci domingo
Houve luzes piscando
Na ligação após
Era o fracasso
Agora palavra absinto
Silencio e nós
Outro gerúndio: conhecendo
Quem sabe em março?

Em relação ao homem bicho: lobo, rato ou porco?

Sábado passado iniciei a execução de um projeto que certamente me trará muita alegria. Uma espécie de oficina de leitura, produção e interpretação de textos em parceria com a CUFA. Essa oficina é parte do Espaço Usina, projeto que visa à divulgação da arte e cultura. Começamos o trabalho com a análise do homem bicho interpretado pelos textos: O Bicho – Manuel Bandeira – 1947 e Ode aos ratos - Edu Lobo/Chico Buarque – 2001. Os textos remetem à situação do homem sem perspectiva, família, sonhos, projetos ou valores. O homem que já não vive, apenas sobrevive catando lixo e incomodando seus semelhantes porque sua existência é algo intragável para a sociedade, ou melhor, para os demais filhos de deus.

Será que foi o capitalismo o responsável por essa situação? Seus fantasmas como a globalização, “a mais-valia”, a má distribuição de renda, a alienação e o consumismo podem ser vistos como culpados por muitos, mas eu discordo dessa responsabilidade. Para mim, Hobbes estava certo ao afirmar que o homem é o lobo do homem que para sobreviver sem guerras estabeleceu um contrato social. O problema é que a natureza humana obrigou a alteração de algumas cláusulas.

O que importa é que o aditivo ao contrato foi assinado e nele constava declaração de que tal procedimento foi feito sem nenhum vício de vontade ou consentimento. O que faltou foi o comprometimento humano nessa afirmação de vontade, pois a justificativa de todos costuma ser o sistema e não o desejo. Não há possibilidade alguma de um cidadão admitir que é seu anseio ser egoísta e preocupar-se consigo, simplesmente. Ele pode até solicitar a deus ajuda aos ratos,(ou aos porcos como no documentário) em suas orações; pode responsabilizar os políticos e esbravejar contra o sistema (como citado), mas nunca admitirá sua participação e agirá de forma a alterar essa realidade.

Costumo dizer que a subumanidade em que a esmagadora parcela da humanidade sobrevive é como uma bomba aguardando a o último centímetro ser queimado para bbbbuuuuummmmm: explodir. Gostaria de informar que não haverá sobreviventes e os estilhaços atingirão até mesmo as cercas elétricas.

Recomendo o documentário Ilha das Flores: http://www.portacurtas.com.br/download.asp
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O Bicho – Manuel Bandeira - 1947

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Ode aos ratos - Edu Lobo/Chico Buarque – 2001

Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão
Vão aos magotes
A dar com um pau
Levando o terror
Do parking ao living
Do shopping center ao léu
Do cano de esgoto
Pro topo do arranha-céu
Rato de rua
Aborígene do lodo
Fuça gelada
Couraça de sabão
Quase risonho
Profanador de tumba
Sobrevivente
À chacina e à lei do cão
Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão

sexta-feira, 2 de março de 2007

Sino: desconstrutor de sonhos

Odeio despertar. Há pessoas que têm dificuldades em abandonar o sono e necessitam de despertadores muito “potentes”. Também existem os que se disciplinam tanto que despertam sozinhos, diariamente, na mesma hora. Pertenço ao primeiro grupo, com particularidades obviamente, uma delas é o vício no despertador tipo “soneca”. A primeira vez que meu celular toca, um jazz, estou com tanto ódio que nem abro os olhos: tateio o criado-mudo (sorte dele possuir esta deficiência) e aperto o botãozinho. Na segunda badalada já consigo abrir meus olhos, observar pela fresta da janela se haverá ou não sol e, novamente, travesseiro. Somente na terceira vez percebo que suporto a mim mesma e vou para o chuveiro, aliás, percebia: pretérito imperfeito.

Deveria ser perfeito o responsável pelo pretérito acima. Afinal seu som é melhor que o eletrônico produzido pelo meu telefone, além de possuir História, beleza e significância. Ele foi responsável pela regulação do dia-a-dia da humanidade durante muitos séculos. Era ele não só quem ditava o tempo, mas também fazia soar os alarmes, os socorros, lamentava as pestes, acompanhava pesaroso os enterros, cantava nos dias de alegrias como o dia de São Cristóvão (em tempo, do padroeiro da província), registrava também as alegrias da comunidade, a boda da princesa ou uma festa do senhorio. Poderíamos até arriscar responsabilizá-lo pela harmonia social medieval.
Estamos a falar do sino. Quanto ao sineiro, indivíduo tão importante que não era valorizado, preencheremos também algumas linhas. Normalmente era surdo ou corcunda como nos diz a lenda de Notre Dame, além de responsável por tudo nas igrejas, espécie de estagiário de hoje, um “mil e uma utilidades”. O pobre diabo, nunca reconhecido, foi substituído pelo relógio por volta de 1.200. Na verdade a força humana deixou de ser satisfatória à regulação da rotina e se fez necessário desvincular as obrigações diárias da vontade do padre e do sineiro.

Para lembrar Karl Marx, analisemos que a chegada dos ponteiros permitiu um controle melhor da produtividade nas fábricas, eles vieram na mesma época da Revolução Industrial. Isto deve ter sido como um xeque no tabuleiro da guerra entre a Igreja e a burguesia. Agora, os sinos pertenciam a outro tempo, o das orações e preces, bastante distinto do preciso e real dos monumentais relógios que foram construídos, como exemplo podemos citar o Big Beng. Assim, cada vez mais as fábricas ocupavam os lares, e os relógios de parede, a partir de 1.500, tomavam o local dos santinhos. Da mesma forma como a Igreja deturpou e levou ao esquecimento regiões pagãs anteriores à ocupação romana, o tempo, que agora é dinheiro, está não só invadindo os pulsos como levando os sinos e a religião para “Avalon”.

Voltemos ao assunto, eu percebia meu despertar aos poucos: pretérito imperfeito. O problema é que a Igreja central de meu município decidiu que ainda pode controlar os indivíduos. Até os profissionais liberais, que se achavam livres do desconstrutor de sonhos, agora possuem um enorme e barulhento despertador. O sino da igreja toca pontualmente as 5:30 h impondo aos livres o tempo da Igreja Católica Apostólica Romana, felizmente cada vez mais extinto. Impressionante como mesmo agonizando, Ela ainda consegue infernizar os homens de boa vontade.


Natal – Fernando Pessoa
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Por seres tão inventivo e pareceres contínuo/Tempo Tempo Tempo Tempo/És um dos deuses mais lindos - Caetano Veloso – Oração ao tempo