terça-feira, 20 de abril de 2010

A fé e o tempo

Como é difícil ter fé. Passei um bom período da minha vida como atéia e era bem mais fácil. Durante este tempo eu simplesmente não cria em nada e tudo quanto havia era acaso. Se meus planos não dessem certo, havia menosprezo pela minha “incapacidade” e quando eu alcançava, mesmo não merecedora, havia um exacerbamento das capacidades.

Hoje tenho fé, mas é difícil mantê-la. É complexo porque o entendimento do tempo só ocorre no futuro e me faltam buracos de minhoca para acompanhar as coisas e a realidade. Sei que as coisas seguem um rumo e que embora haja livre-arbítrio, algumas são inevitáveis, se não nessa, ao menos na próxima encarnação. Sei que todo sofrimento tem como objetivo a evolução e a aprendizagem e que precisamos ter fé. Mas ela fraqueja, assim como Pedro que deu os primeiros passos sobre as águas e depois precisou ser socorrido pelo Messias. Este trecho bíblico traz como símbolo de aprendizagem a necessidade que temos de não esquecer, mesmo quando temos dúvidas, que a Espiritualidade está conosco e que há um caminho a ser trilhado, acompanhado e mudado pela mesma conforme nossas escolhas e comportamento.

É nisso que acredito hoje, e é isso que tenho encarado como desafio: SABER, ter CIÊNCIA que minhas escolhas me levam a caminhos, mas que eles sempre terão, embora com buracos, adversidades e outros percalços dependendo do atalho, o mesmo FIM. Cabe a mim exercitar as ações que levam às melhores conseqüências, ou seja, me aproximam da FINALIDADE mais facilmente.



Childhood living is easy to do
The things you wanted I bought them for you
Graceless lady, you know who I am
You know I can't let you slide through my hands
Wild horses couldn't drag me away
Wild, wild horses couldn't drag me away
I watched you suffer a dull aching pain
Now you decided to show me the same
No sweeping exits or offstage lines
Can make me feel bitter or treat you unkind
Wild Horses couldn't drag me away
Wild, wild horses, couldn't drag me away
I know I dreamed you a sin and a lie
I have my freedom but I don't have much time
Faith has been broken tears must be cried
let's do some living after we die
Wild Horses, couldn't drag me away
Wild, wild horses, couldn't drag me away
Wild Horses couldn't drag me away
Wild, wild horses, we'll ride them someday

sexta-feira, 5 de março de 2010

Arquitetura



A respeito da perfeição do universo, fez-se maior minha percepção durante a visita a um amigo. Radical, o João, após uma conversa a respeito do segundo passeio sob a lua cheia no rio das mortes, levou-me ao seu quintal no qual se encontra um avião em construção.

Observando o avião, seu projeto, peças e moldes, o que mais me chamou atenção foram as carapuças das rodas. As mesmas têm formato de rabo de peixe, o qual diminui o atrito e permite aos pilotos mais manobras com maior velocidade. O atrito que naquele avião também será reduzido pois os parafusos (segundo ele rebites) são internos, fixados de forma a qual me foi explicada mas eu pouco entendi, mais ou menos com o mesmo intuito o qual os nadadores se depilam.

Lembrei dos dourados de Bonito/MS nadando fluidamente enquanto eu, com minha máscara idiota destoava do ambiente, aprimorando o que o ser humano tem como principal característica: o nada a ver com a magnitude do mundo. A sorte é que essa destreza é aproveitada de forma prazerosa, quase sempre. Um vôo de ultraleve ou um mergulho ao fundo do mar nos fazem obter uma mescla de emoção que certamente remete à memória genética de nossos átomos a maravilha de ser integrante da mãe natureza, do todo.

Como é bom sentir-se fluido. Sonhar. Sonhar que esta voando ou nadando então: literalmente um sonho! Diametralmente oposto ao cartesianismo dos engenheiros ao desenhar os instrumentos que destoam, que alienam. Sem apologia ao primitivismo ou naturalismo registro esta crítica à falta de percepção das essências, das lógicas que a matemática moderna não conseguiria desenvolver com a perfeição da evolução biológica das coisas. Deveríamos apreender mais as delícias sentidas pelo que os maçons costumam denominar o grande arquiteto do mundo. Perceba-se aqui a distinção entre arquitetura e desenvolvimento de máquinas.

"O que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe. Por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
Quem as algas apertam em teus braços?, perguntas mais firme que uma hora e um mar certos?
Eu sei perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando como o unicórnio do mar, arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de jóias, é infinita como a areia incontável, pura; e o tempo, entre uvas cor de sangue tornou a pedra lisa encheu a água-viva de luz, desfez o seu nó, soltou seus fios musicais de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu, investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento." Pablo Neruda

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

construção

sábado, 9 de janeiro de 2010

Dois mil e 10

Bem que não possamos mudar de vida, apenas mudar a vida enquanto ela nos muda.

Que 10 seja o número multiplicador, já que em 2009 ele foi o pequeno número de postagens nesta oficina.

Mas não é uma pena, já que foi o melhor pior ano da minha vida.

Esta canção de Caetano se aproxima à minha relação com 2009.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Eu acredito em milagres

Essa semana eu recebi uma conta que estava atrasada desde março. Qual a técnica: FÉ. Tenho fé em milagres e também poder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), já que só recebi o referid0 crédito após visita a um pastor objetivando que o mesmo “encaminhasse” sua ovelha para retidão (leia-se adimplência).

A IURD utiliza-se de seu discurso sobre a verdade para estabelecer as relações de poder. O poder está associado ao saber, que confere autoridade ao discurso, conferindo-o o grau de VERDADEIRO, tudo isso segundo Foucault. Para o mesmo, a verdade é transitória e sujeita a questões sociais. Exemplo disso são os pecadores que já foram queimados e hoje encontram-se alocados na classe de desgarrados.
Em Vigiar e Punir, o autor analisa os dispositivos de poder e saber que permitem a produção de sujeitos dóceis, modernos e úteis, o mesmo que crentes, para a visão IURD. Ela, através de seu saber religioso, apropria-se de valores em detrimento de uma OBRA. A sua Teologia da Prosperidade determina que o fiel obterá tudo, desde que viva em conformidade com a fé, ou seja, com a orientação do pastor, que inclui entregar o dízimo e realizar ofertas.
O controle social é realizado enfatizando-se a assiduidade na Igreja, que organiza diversos eventos: campanhas, batismos, purificações, propósitos, escola bíblica, entre outros. Eu mesma conheço duas “crentes” que abandonaram a Igreja pela pressão por suas faltas. Semana passada soube de uma prima minha que está namorando um evangélico e que recebeu uma ligação do pastor perguntando por que o namorado dela estava faltando aos cultos. Não preciso especificar a resposta, né?
Objetivando o controle e o poder, os pastores transformaram a inocente confissão (que dava saber ao padre) em objeto de coerção na comunidade, já que eles decidem quem deve dar “testemunhos” de seus pecados durante o culto para que todos os irmãos saibam, ou melhor, aprendam com a humilhação do próximo.

O crescimento do poder desta Igreja está diretamente relacionado e ligado aos interesses do Capitalismo e princípios econômicos modernos. A contribuição para a OBRA dá aos fieis o direito de sentirem-se sócios de deus e gozarem dos empreendimentos de felicidade na terra. Assim como o marketing enfatiza a ESCOLHA do consumidor, essas Igrejas também apelam para a opção de ser feliz, pois a “entrada” na igreja propiciará as mudanças desejadas.
Como capitalista, aprovo os pastores que orientam seus fiéis a pagar seus débitos.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Não ligue para essas caras tristes fingindo que a gente não existe"...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tempo IV

Olá Imaginários,

Nesse espaço democrático, ainda a respeito da temática Tempo, segue contribuição do amigo Adilson:

Mutantes

O corpo humano é incrível, funciona perfeitamente onde tudo é interligado, com todas as células, órgãos, nervos, músculos e neurônios dependentes uns dos outros. É realmente uma máquina, uma engrenagem que opera numa harmonia impressionante. Considero, porém, a mente humana a parte mais fantástica, não no aspecto físico da coisa, mas sim do consciente ou inconsciente, o abstrato.

Aprendemos em biologia, que somos seres mutantes, onde a cada instante temos células nascendo e morrendo, uma batalha ininterrupta, onde nosso corpo muda e desenvolve, onde se explica a famosa seqüência de acontecimentos: nascer, crescer e morrer.

Acontece que além dessa mutação, existem outras, e é nessa parte que entra a parte da mente que me encanta. O Ser Humano é incrível, aprende-se errando, e muitas vezes acerta-se com o erro. Sempre achamos que já fomos felizes o suficiente, que choramos tudo que podíamos, que sofremos o bastante. Contudo, aprendi que ter essas certezas é um grande problema, e que elas servem apenas para um propósito, de nos avisarmos, como um sinal de alerta, de que algo está errado. E é nesse momento que a nossa vida toma um rumo totalmente diferente daquilo que estávamos acostumados. Inicia-se aí uma nova mutação.

Revemos conceitos e preconceitos, abrimos os olhos para coisas que não dávamos importância ou que simplesmente passavam despercebidas. Rimos de novas piadas ou de situações antes nunca vividas, nos tornamos mais sensíveis e ao mesmo tempo mais frios. Colocamos família e amigos em primeiro plano, quando antes ficavam apenas com as sobras, já que a maioria do tempo era dedicado a algo de mais “valor”.

E isso tudo é uma maravilha, mostra que somos capazes de ser mais do que já fomos, e que apenas o Tempo é o limite para aprendermos novas manias, costumes, sentimentos, culturas, sabores, amores, paixões. Enfim somos Mutantes, ainda bem.


Adilson De Carli

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Lula x Zelaya



Charges do site:
www.sponholz.arq.br

Esta Oficina já descreveu as diferenças entre Obama e Lula e desta vez tratará de apenas duas das inúmeras semelhanças entre o segundo e o baderneiro José Manuel Zelaya Rosales, que após ser deposto do cargo de presidente de Honduras “invadiu” a embaixada do Brasil.

1. Confusão entre direita x esquerda/liberalismo x socialismo
Zelaya - Apesar de eleito por um partido de direita, ele se aproxima cada vez mais de Hygo Chavez e intesifica ataques aos EUA e ao setor empresarial, que financiou sua campanha. Detalhe: ele é filiado ao Partido Liberal.

Lula – Defendia o fim das políticas neoliberais e calote ao FMI. Uniu-se ao PL, foi eleito e reeleito seguindo a cartilha dos banqueiros e aumentando a carga tributária, tudo isso com o apoio do alto escalão da Direita, personificado pelo Sarney. E nos supreendeu semana passada afirmando que nestas eleições o país estará livre dos trogloditas da direita, acredito que ele estava se referindo ao militante de esquerda José Serra, que mesmo sendo tucano foi poupado dos inteligentes e democráticos rótulos do PeTrala.

2. Falta de respeito aos princípios constitucionais
Zelaya - além das denúncias de corrupção, decretou a realização de uma consulta popular sobre a realização de um referendo concernente à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte com os seguintes termos: Você está de acordo que, nas eleições gerais de novembro de 2009, se instale uma quarta urna para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que aprove uma nova Constituição política? A consulta foi desautorizada pelo Congresso e pelo Judiciário. Entretanto, Zelaya decidiu realizá-la, ainda que seu valor fosse meramente simbólico. Como os militares se recusaram a distribuir as urnas, o presidente demitiu o chefe do Estado Maior Conjunto, Romero Orlando Vasquez Velasquez. Este não acatou a ordem e teve o apoio dos demais comandantes, assim como do Congresso e do Judiciário e o expulsaram do país de pijama.

Lula – além da corrupção (exclui-se o termo “denúncias”), não há nenhum respeito pelos princípios constitucionais, como moralidade, legalidade, impessoalidade, entre outros. Recuso-me a estender esse assunto já por todos conhecido. Apenas ressalvo que a última indicação do presidente Lula ao STF (defensor da CF/88) é réu em dois processos por danos ao erário e ex advogado do PT, o que nos leva a crer seu profundo conhecimento de como burlar a Carta Magna.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tempo III

Abaixo contribuição de um querido amigo à temática tempo: Tony Cleber dos Santos


AS PIRUETAS DE SATURNO COM SEUS MALABARES

“(...)Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”

( Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Às vezes, me ponho a lembrar-me de mim mesmo nos meus gostos, minhas visões, fantasias e opiniões como eram nalgum ponto pretérito, para meu espanto e íntimo deleite de tê-las como hoje não são. Esforço-me por recuar muito longe, até quando, pequenino, duvidando da minha própria existência, como se sofresse encosto de algum filósofo racionalista do século XVIII, me beliscava em tardes avulsas, estateladas no meio da semana. Olhava para o céu, para o chão e sabia que eu estava, mas me indagava se era; não sabia se o chão firmava - o que, afinal firmaria o chão? -, ou se, caminhando até o horizonte, as nuvens podia alcançar. Quase completamente possuído pelo tal demônio filosófico, concluía que a beliscada doía mesmo.

Lembro-me de como adorava feijão e de como, hoje, esse prato me é indiferente. Também me lembro que fui socialista camaradinha dos camaradas dos DCEs e de como passei por algumas variantes quase heréticas de pensamento político, sem jamais ser nazista, diga-se. Hoje sou constitucionalista; mais um auto-rótulo para administrar tanta mudança. Por que mudamos assim? Por que mesmo varrendo-nos a pó todos os dias pela porta de nossas casas ainda ousamos atender à mesma alcunha? Pelo menos a mim, não deixa de ser estranha a idéia de mudar e mudar, e trocar de pele, cabelo, e alma, pois me parece que de alguma forma compramos a idéia de que há uma essência de ser e também a de que existe um ponto de amadurecimento. Mas quando é que chegamos a esse ponto? Espero que não seja na hora de cair do pé....
Ademais essas pequenas mudanças que dão sabor à existência, podemos pensar que tanta camaleonice pode ser indício de falta de princípios. Para rebater essa possível autocrítica, sempre imaginamos, em benefício de nossa própria imagem, que nossas variações nos conduzem a uma evolução, a um aprimoramento do espírito, da inteligência ou da sensibilidade. De fato, observo que não mudamos ao sabor das conveniências. Habitamos nossas crenças; são a base de nossa existência. No entanto, sabemos apenas porque muda o camaleão.
Obviamente, não estaria aqui gastando as pontas dos dedos se não enxergasse um problema nisso. A questão, porém, é que esse problema não está nas mudanças que por mais espantosas que sejam, sempre estiveram na ordem do dia e, de certa maneira, ou a elas nos resignamos ou criamos a ilusão de que somos sempre os mesmos. O que nos intriga é como podemos manter identidade mediante tantas mudanças, de que forma eu ainda sou o menino que gosta de feijão. O que tudo isso significa, a que conduz? Há, de fato, uma evolução de nosso desenvolvimento, um aprimoramento moral, um amadurecimento? Se assim é, como pode ser que eu – homem feito - posso ainda mudar, e até retroceder? Na verdade, de todas as indagações, é essa última a que mais cansa.
Freud, Piaget, Vygotski; nenhum desses eminentes pensadores, na narrativa desse desenvolvimento, vai muito além da adolescência, que, nessas teorias, termina por ser a última edição, aquela em que o ser está pronto para o mundo, seja por já ter suas funções reprodutivas amadurecidas, seja por já poder compreender e elaborar conceitos abstratos e executar funções mentais superiores e com isso adquirir um bom nível de sociabilidade e senso de responsabilidade. Além disso, se for aplicado e estudioso, terá um selo do Ministério da Educação.
No entanto, o caniço pensante segue seu caminho solitário em sua busca de si, de um sentido, um conforto, um sentimento de estar no lugar certo, de maneira que nunca estamos maduros até que tombemos do galho. Parece-me muito mais sábia a noção, expressa pelo defunto autor machadiano, de que nossa última versão é a que a terra consome. A vida, em suas múltiplas estações, nos molda, burila, e encera, até que, com ou sem surpresa, vem a sinistra nos fotografar a feição desenhada no último hausto, na última descarga neural.

A vida, o tempo... O que nos fascina é essa dimensão de ser que não é apenas duração. Qual é o princípio ativo do tempo? Quem não toma desse remédio?

Todas as nossas angústias provêm da recusa do tempo. Resistimos a ele porque o tempo sempre exige de nós uma atitude que, geralmente, contraria a disposição que trazemos no âmago. Isso ocorre em todas as fases de nossa vida, desde o nascimento até a morte.
Tenho carregado essa reflexão comigo pelos últimos três anos, desde quando percebi em mim uma mudança na percepção das coisas, mudança tão repentina e radical como quando, por volta dos dezoito anos, senti que se fosse para viver uma vida inautêntica não valeria a pena viver, e assim passei a me construir, a tecer a minha existência pautado por esse princípio. Aos vinte e um, eu era a própria bandeira tremulando loucamente: Derrube os muros!
Aos dezoito ocorreu-me o prenúncio de uma transformação muito significativa para mim. A matemática mística dessas “private copernican revolutions” nos ensina que era a crise dos vinte e um, crise da auto-afirmação. Todas as crises são marcadas por prenúncios que culminam no paroxismo da própria crise. Os auges podem ser registrados com maior ou menor precisão num ciclo de sete anos, segundo a teoria das crises setênicas. O que começou aos dezoito culminou aos vinte e um anos com a consolidação de uma independência financeira que trouxe a sensação de que tudo podia alcançar e que deveria abraçar a vida e dela esgotar as possibilidades, transformando-a na busca incessante da experiência totalizante, que no fundo é ânsia de morte. Simples assim. Freud.
Nessa fase, quer se conhecer os dois lados de tudo, e para conhecer a Deus não se hesita em invocar Satã, para se obter prazer, não se cansa de desafiar a dor. Poucos são aqueles que extraem as vantagens dessa fase, por estarem muito ligados a preconceitos e moralismos que lhe tolhem essa capacidade. O trânsito entre os opostos propicia um ponto de vista privilegiado àquele que souber tirar proveito disso, além de possibilitar maior autoconhecimento por meio da diversidade de experiências a que se expõem. Quando isso me ocorreu, trazia a vantagem de as bases da minha vida adulta estar firmadas e a consciência de que havia pessoas sobre as quais eu tinha responsabilidade, a qual assumi plenamente. Não coloquei isso como obstáculo a consecução dos meus objetivos. Auto-afirmação. Lembro-me até hoje do dia em que percebi isso. Liguei para uma amiga que havia conquistado quando inaugurei minha vida autêntica e disse com profundo alívio que havia solucionado, dentro de mim, um dilema. Faltavam poucos meses para completar vinte e um anos. O ciclo, portanto, havia se fechado e eu estava pronto para me assumir com um ser humano em busca da auto-realização, em busca da felicidade.
Entretanto, o tempo transcorre e o ser percebe-se sempre de forma diferente no tempo: não tarda para que o desafio lançado à dor mostre sua outra face: a obsessão, o desatino, o absurdo. Vê-se que não dá para mascarar a dor com falsos riso, ( na verdade, gritos de desespero), pois sente-se que se lança numa busca que parece cada vez mais distante...Tudo é dor. Cansa-se da superficialidade, começa o existencialismo. Percebi o início disso por volta dos 25 anos. Mais uma vez, o prenúncio precede a crise em três anos. Nessa fase, a experiência mais profunda pode ser a do pensamento, de modo que muitas pessoas podem mudar suas opiniões políticas, religiosas, seus hábitos, pois coloca em cheque toda a base que orientou sua ação até então, não raro o pensamento pode dar giros indo-se de A a Z para voltar a A novamente. Essa inquietação é sintoma do questionamento radical de si e das coisas que se leva a efeito nessa fase. O sentido de tudo isso é um só: alçar-se acima da dor. Essa fase que se estende dos vinte e cinco até os 28, quando se dá a revolução de saturno, o “novo nascimento”, é crucial, pois todo um ciclo cármico se fecha. É onde estou agora. Tenho vinte e oito. Mas alguns ainda dizem que somente quando se chega aos vinte e nove e se sai dessa zona nebulosa é que podemos enxergar com mais clareza tudo quanto se passou. Como naquela letra de Renato Russo numa música da Legião.

Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
Já que você não me quer mais
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove com o retorno de saturno
Decidi começar a viver
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar e a pedir perdão
E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez

Ainda que a razão de tudo isso não seja um louco astro da via láctea dando piruetas e equilibrando vinte e nove malabares, podemos sentir em nós esse desabrochar de uma nova pessoa, essa moção que nos abate e fortalece, tornando-nos algo curioso para nós mesmos.

domingo, 31 de maio de 2009

Trânsito Primaverense



Fim de semana novamente visitei um famoso bar localizado entre a cruz e a praça. Durante duas horas de lero-lero conseguimos perceber a quase pexada (dicionário gaúcho é necessário para leitura deste blog) em diversas situações, todas envolvidas no queijinho que separa duas avenidas. As rotatórias substituem os semáforos que já existiram em nossa cidade, mas que não receberam boa aceitação da população local e com razão, já que moramos no interior e não desejamos parar no sinal vermelho e nos estressar com a possível multa que ocorreria de uma parada desnecessária, já que o movimento ocorre em determinadas horas do dia e ainda sem filas, engarrafamentos e outras situações exigíveis de sinaleiros.



Mesmo que quase ninguém respeite a faixa de pedestres em nossa cidade, até mesmo porque as mesmas não nos respeitam, alguns pedestres aparecem, como que num passe de mágica atravessando a rua em nossa frente. Freamos e olhamos atentamente, os míopes têm mais dificuldade, mas se olharmos com bastante atenção perceberemos que aquele pedestre não esta atravessando a rua na rua e sim, na faixa, sempre desbotada e mal sinalizada, quando não também com localização irregular.


A rotatória também localizada entre a cruz e a espada teve um pequeno sinistro enquanto eu estava no referido boteco. Para que uma moçoila utilize seu direito de atravessar a rua na faixa, um motorista teve o dever de frear no meio da rotatória, o que fez com que o motorista que estava atrás do mesmo, que observava as demais moças do buteco encostar em sua traseira. A sorte é que enquanto caçava as belezas da calçada (sim, em nossa cidade os bares têm mesas em calçadas) guiava lentamente seu auto, caso estivesse um pouco menos interessado ou com um pouco mais de pressa o acidente teria conseqüências mais desastrosas.


Dizem que no trânsito brasileiro o que há é falta de educação, tratam a mesma como algo que se diagnostica: para os brasileiros cinco comprimidos ao dia; para europeus meia dose diária. Solicito encarecidamente aos leitores que exijam que o dinheiro público seja investido em planos de sensibilização, treinamento e principalmente fiscalização no trânsito. Gastem menos filosofia de boteco com o termo educação e mais com cobrança e participação na gestão dos recursos públicos.


Para explanar o porquê não creio no termo educação como o problema descrevo o caso das faixas de Primavera do Leste e Tangará da Serra. Ambas são cidades pequenas de Mato Grosso com perfis semelhantes de população história, cultura e base econômica. Lá as faixas são utilizadas, até os ciclistas empurram a pé suas bikes pelas mesmas e existe uma foto divulgada em cartões telefônicos na qual cães estão atravessando a faixa. Aqui, os ciclistas pedalam na contramão, no meio das ruas e a situação das faixas já foi descrita. Será que o problema é educação ou gestão?