terça-feira, 30 de outubro de 2007

Monalisa

Entre ônibus e esquina
Olhares são cartas de cigana
Fome, desejo, política
Como cores de Ruanda
Ri

Menina e mulher
Funde-se na cumplicidade
Família, cachorro e o vier
Clamam amor em estranha cidade
Sorri

No apogeu do desejo
Simplicidade do momento
Camas sobrepostas e nascimentos antepostos
Receios em fomento
Caí

Carência, diferenças
Mudanças, renascimento
Minhas crenças
Aguardo, num momento
Aqui

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Abaixo rótulos. Viva o cabelo revoltado.

Sempre odiei novelas, obviamente que estou falando enquanto adulta porque as crianças assistem à tudo e aceitam como legal por não terem capacidade de discernimento e como prova desta afirmação cito que eu, por exemplo, quando criança gostava de uma novela sobre reis, salvo engano “Que rei sou eu?”. Minha ojeriza por novelas me levou a crer, até uns dois anos atrás, que os seriados americanos também eram lixo e o fato de muitos serem rotulados como “cults” aumentou meu menosprezo. O fato é que num momento de estrema carência e cansaço da noite eu apelei para os “Friends” e percebi que além de divertidos os seriados também são praticamente fluxetinas.

Dentre esses seriados o que mais me atrai é o “Sex and the City” que trata de maneira extrovertida as questões relacionadas ao sexo e aos desejos das mulheres solteiras e “independentes”. A personagem principal, Carrie Bradshaw escreve semanalmente para um jornal sobre relações interpessoais e sexuais e possui três amigas, também solteiras, que juntas discutem sexo, fazem compras e buscam na noite um refúgio para suas carências. Ela é um símbolo de elegância, bom gosto e requinte. Um dos epsódios mais engraçados relata um convite recebido pela socialite para fazer a capa de uma revista que trataria das mulheres solteiras e deslumbrantes e a sessão de fotos foi agendada para sábado de manhã. O problema é que Carrie se animou nas tequilas de sexta a noite e acabou se atrasando e tirando fotos com o cabelo completamente bagunçado, olheiras, cara de quem não dormiu e com um cigarro aceso. O editorial da revista acaba incluindo um ponto de interrogação depois do adjetivo “deslumbrantes”.
Bom, o foco é outro, quero registrar algo quer me deixou bastante triste. Encontrei na internet hoje a seguinte manchete: Sarah Jessica Parker lidera ranking das mulheres "menos sexy". Poxa vida! Ela para mim é extremamente atraente, me identifico com sua maneira de se vestir e com o cabelo, principalmente, pois odeio a pranchinha. Ontem estava conversando com uma pessoa que conheci no evento que estou participando sobre rótulos e estereótipos. Por que uma mulher deve ter os cabelos lisos e se vestir de forma comum para ser sexy? Sinceramente penso que os homens que não seguirem a rotulagem proposta poderão ter belas surpresas ao perceber que o diferente se torna mais atraente que o previsível.


terça-feira, 16 de outubro de 2007

Ode ao desencanto

Quando era adolescente em uma consulta médica, a louca loira que não parava de tentar consertar seu colar de miçangas, me dizia que antes de nos entregarmos a alguém precisamos conhecer esta pessoa em diversas situações: odiando, raivosa, frustrada, falindo, viajando, enfrentando a morte de um ente, sorrindo, entre outros: foram, pelo que me recordo, aproximadamente uns trinta minutos de ladainha. Deduzi, na época, que precisaria namorar uns trinta anos e talvez nunca me sentiria pronta a entregar minha flor (como diria a Monica do seriado Friends) a alguém.

Como a intenção não é fazer apologia à manutenção ou não da virgindade e sim questionar o quanto as pessoas se permitem conhecer em uma relação, mudemos de assunto. Já que somos como icebergs e só mostramos aos outros uma pequena parte do que somos, o quanto do restante poderá ser descoberto com o tempo, ou não? A questão é que as vezes não queremos mostrar essa parte e também estamos impossibilitados de mostrar a integralidade já que nem ao menos temos (cons)ciência da mesma, segundo a Psicologia, é claro.

Gosto muito do filme Closer – Perto Demais de Mike Nichols, que trata do quanto o afeto está cada vez menos valorado nas relações contemporâneas que exigem do parceiro um comportamento adequado e um pouco de sexualidade, apenas. A moça da imagem é um dos personagens do filme, os quais estão presos uns aos outros, mesmo que na verdade saibam que “aquilo” nunca será o que realmente sonham. Os quatro personagens, absorvidos com a satisfação de seus próprios egos, acabam percebendo que o sexo e a formalização de um relacionamento “estável” não necessariamente significam a verdade ou a cumplicidade. Recomendo.

Ode ao desencanto:

Você nunca me viu irada, não imagina como sou quando tenho ódio, não conhece meu lado vingativo e nem desconfia como sou quando fracasso ou me decepciono. Você desconhece o quanto sou ignorante de muitos assuntos e quanto sei de outros que nunca importaram a você. Não sabe como sou amiga das pessoas que amo pois não teve a oportunidade de ver ou ainda não soube interpretar algumas poucas vistas.

Não soube que fui fiel à possibilidade de concretização de seus planos mesmo não tendo os meus ou sabendo que teria que me adequar já que não eram os mesmos que os meus. Não desconfia que significou a mudança tão almejada e mais uma vez desperdiçada pela dureza de meu peito. Não sabe que dentro da complexidade do meu ser há uma simplicidade incondicional de potencial amor. Não sabe, não pôde ou quis saber, e jamais saberá.

Para piorar você nunca entenderá Caetano pelos dois motivos os quais, esses, você conhece.

You Don't Know Me
Do disco TRANSA de Caetano Veloso

You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There’s nothing you can show me
From behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Basquiat e Itamar Assumpção



"já que você não merece devolva minhas preces
meu canto meu amor meu tempo por favor
e minha alegria que naquele dia
só te emprestei por uns dias
e é tudo que me pertence
PS: já que você foi embora porque não desaparece"
A intensidade do sentimento de inquietação ao apreciar a tela de Jean-Michael Basquiat e o excerto do poema de Itamar Assumpção não são as únicas semelhanças que podem ser abstraídas destes artistas.

Além de levar à arte sentimentos que acreditava serem exclusivamente meus, ambos são negros e destacaram-se no chamado mundo artístico independente e alternativo. O primeiro foi grafiteiro das ruas de Nova York e o segundo bradava ser um “artista popular!” quando era adjetivado como "artista maldito" pelos críticos que o consideravam “difícil”.

Conceituais, neo-expressionistas ou abstratos? Não sei, para mim: capazes de exprimir saudades e desejos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Xô CPMF

“Ficou paraplégico após assalto na saída do banco. O dinheiro que atraiu os marginais foi seu salário sacado para pagar as contas. O motivo do saque foi evitar a CPMF”.

A CPMF é contribuição social autorizada pela Emenda Constitucional n.º 12/96, incidente sobre a movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira com finalidade de financiamento das ações e serviços de saúde. Com essa base, foi editada a Lei n.º 9.311, de 24 de outubro de 1996, que instituiu a mesma e conceituou movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira como “qualquer operação liquidada ou lançamento realizado, pelas instituições financeiras, que representem circulação escritural ou física de moeda, e de que resulte ou não transferência da titularidade dos mesmos valores, créditos e direitos”. A definição do fato gerador da contribuição é descrita em seis incisos no art. 2º, e eu defino-os como “movimente seu suado dinheiro em instituições financeiras que o governo papa o mesmo”.

Muitos motivos me levaram a posicionar-me desfavoravelmente à prorrogação, e um deles é a argumentação falsa do governo PT que alega que a saúde brasileira depende do recurso depois de ter votado e trabalhado contrariamente a sua aprovação em 1996, aplicar uma péssima gestão no setor e ter índices altímissimos de corrupção. Isso é o que podemos descrever como oposição burra e a ignorância sempre me irritou. Em 1999 a CPFM já deixava de ser de 0,25% e passava a custear a previdência social e o fundo de combate a pobreza com a alíquota de 0,38%.

Depois da decepção de Renan na Câmara, agora a melancolia da CPMF. O interessante é observar que praticamente todos que apóiam o Calheiros são adeptos à eternização da contribuição que é provisória só no nome. Veja a orientação dos partidos na votação da Câmara dos deputados em 09/10/07: Sim (Pmdb / Psc / Ptc / PT / Psb / Pdt / PCdoB / Pmn / Phs / Prb / PR / PP / PTB / PV). Não à prorrogação: (DEM/PSDB/ PPS/PSOL). Seguindo essa lógica a sessão foi encerrada com a vitoria do sim com o placar de 333 x 113.
O Mato Grosso possui 8 deputados dos quais os 7 votos favoráveis foram do PT, representado por Carlos Abicalil; do PP de Eliene Lima e Pedro Henry (PP); do PMDB posicionado pelo Professor Victorio Galli; do PSB de Valtenir Pereira e do PR de Maggi e Getúlio Viana, aliados de Lula com os votos de Wellington Fagundes e Homero Pereira. O único voto contrario foi da viúva Thelma de Oliveira do PSDB.

Agora é só rezar para que a oposição “feche o cerco” e aproveite a desmoralização Calheiros no Senado para impedir a prorrogação. A título de informação, os senadores mato-grossenses são três, dois do DEM que votarão contra a prorrogação, Jaime Campos e Jonas Pinheiro e a Serys, petista, que será favorável ao governo e à CPMF.

Também a título de informação, lembro que:

· um valor qualquer de dinheiro, depois de passar por 263 transações financeiras, vai inteirinho para os cofres do governo
por causa da CPMF;
· que o governo cobra a CPMF quando você vai pagar um empréstimo feito no banco;
· que a CPMF deveria vigorar por apenas 2 anos mas que já dura mais de 10;
· que em Janeiro de 2007, em relação ao mesmo mês do ano passado, a CPMF teve um aumento de 21%!
· que a CPMF tem efeito cascata;
· que estados e municípios não têm participação na
arrecadação com a CPMF.

Meu apelo é que, nós tupiniquins, lembremo-nos dos nomes favoráveis e desfavoráveis e comecemos um trabalho de ativação de memória política.
"A política é a continuidade da guerra por outros meios"