quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Eu acredito em milagres

Essa semana eu recebi uma conta que estava atrasada desde março. Qual a técnica: FÉ. Tenho fé em milagres e também poder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), já que só recebi o referid0 crédito após visita a um pastor objetivando que o mesmo “encaminhasse” sua ovelha para retidão (leia-se adimplência).

A IURD utiliza-se de seu discurso sobre a verdade para estabelecer as relações de poder. O poder está associado ao saber, que confere autoridade ao discurso, conferindo-o o grau de VERDADEIRO, tudo isso segundo Foucault. Para o mesmo, a verdade é transitória e sujeita a questões sociais. Exemplo disso são os pecadores que já foram queimados e hoje encontram-se alocados na classe de desgarrados.
Em Vigiar e Punir, o autor analisa os dispositivos de poder e saber que permitem a produção de sujeitos dóceis, modernos e úteis, o mesmo que crentes, para a visão IURD. Ela, através de seu saber religioso, apropria-se de valores em detrimento de uma OBRA. A sua Teologia da Prosperidade determina que o fiel obterá tudo, desde que viva em conformidade com a fé, ou seja, com a orientação do pastor, que inclui entregar o dízimo e realizar ofertas.
O controle social é realizado enfatizando-se a assiduidade na Igreja, que organiza diversos eventos: campanhas, batismos, purificações, propósitos, escola bíblica, entre outros. Eu mesma conheço duas “crentes” que abandonaram a Igreja pela pressão por suas faltas. Semana passada soube de uma prima minha que está namorando um evangélico e que recebeu uma ligação do pastor perguntando por que o namorado dela estava faltando aos cultos. Não preciso especificar a resposta, né?
Objetivando o controle e o poder, os pastores transformaram a inocente confissão (que dava saber ao padre) em objeto de coerção na comunidade, já que eles decidem quem deve dar “testemunhos” de seus pecados durante o culto para que todos os irmãos saibam, ou melhor, aprendam com a humilhação do próximo.

O crescimento do poder desta Igreja está diretamente relacionado e ligado aos interesses do Capitalismo e princípios econômicos modernos. A contribuição para a OBRA dá aos fieis o direito de sentirem-se sócios de deus e gozarem dos empreendimentos de felicidade na terra. Assim como o marketing enfatiza a ESCOLHA do consumidor, essas Igrejas também apelam para a opção de ser feliz, pois a “entrada” na igreja propiciará as mudanças desejadas.
Como capitalista, aprovo os pastores que orientam seus fiéis a pagar seus débitos.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Não ligue para essas caras tristes fingindo que a gente não existe"...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tempo IV

Olá Imaginários,

Nesse espaço democrático, ainda a respeito da temática Tempo, segue contribuição do amigo Adilson:

Mutantes

O corpo humano é incrível, funciona perfeitamente onde tudo é interligado, com todas as células, órgãos, nervos, músculos e neurônios dependentes uns dos outros. É realmente uma máquina, uma engrenagem que opera numa harmonia impressionante. Considero, porém, a mente humana a parte mais fantástica, não no aspecto físico da coisa, mas sim do consciente ou inconsciente, o abstrato.

Aprendemos em biologia, que somos seres mutantes, onde a cada instante temos células nascendo e morrendo, uma batalha ininterrupta, onde nosso corpo muda e desenvolve, onde se explica a famosa seqüência de acontecimentos: nascer, crescer e morrer.

Acontece que além dessa mutação, existem outras, e é nessa parte que entra a parte da mente que me encanta. O Ser Humano é incrível, aprende-se errando, e muitas vezes acerta-se com o erro. Sempre achamos que já fomos felizes o suficiente, que choramos tudo que podíamos, que sofremos o bastante. Contudo, aprendi que ter essas certezas é um grande problema, e que elas servem apenas para um propósito, de nos avisarmos, como um sinal de alerta, de que algo está errado. E é nesse momento que a nossa vida toma um rumo totalmente diferente daquilo que estávamos acostumados. Inicia-se aí uma nova mutação.

Revemos conceitos e preconceitos, abrimos os olhos para coisas que não dávamos importância ou que simplesmente passavam despercebidas. Rimos de novas piadas ou de situações antes nunca vividas, nos tornamos mais sensíveis e ao mesmo tempo mais frios. Colocamos família e amigos em primeiro plano, quando antes ficavam apenas com as sobras, já que a maioria do tempo era dedicado a algo de mais “valor”.

E isso tudo é uma maravilha, mostra que somos capazes de ser mais do que já fomos, e que apenas o Tempo é o limite para aprendermos novas manias, costumes, sentimentos, culturas, sabores, amores, paixões. Enfim somos Mutantes, ainda bem.


Adilson De Carli

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Lula x Zelaya



Charges do site:
www.sponholz.arq.br

Esta Oficina já descreveu as diferenças entre Obama e Lula e desta vez tratará de apenas duas das inúmeras semelhanças entre o segundo e o baderneiro José Manuel Zelaya Rosales, que após ser deposto do cargo de presidente de Honduras “invadiu” a embaixada do Brasil.

1. Confusão entre direita x esquerda/liberalismo x socialismo
Zelaya - Apesar de eleito por um partido de direita, ele se aproxima cada vez mais de Hygo Chavez e intesifica ataques aos EUA e ao setor empresarial, que financiou sua campanha. Detalhe: ele é filiado ao Partido Liberal.

Lula – Defendia o fim das políticas neoliberais e calote ao FMI. Uniu-se ao PL, foi eleito e reeleito seguindo a cartilha dos banqueiros e aumentando a carga tributária, tudo isso com o apoio do alto escalão da Direita, personificado pelo Sarney. E nos supreendeu semana passada afirmando que nestas eleições o país estará livre dos trogloditas da direita, acredito que ele estava se referindo ao militante de esquerda José Serra, que mesmo sendo tucano foi poupado dos inteligentes e democráticos rótulos do PeTrala.

2. Falta de respeito aos princípios constitucionais
Zelaya - além das denúncias de corrupção, decretou a realização de uma consulta popular sobre a realização de um referendo concernente à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte com os seguintes termos: Você está de acordo que, nas eleições gerais de novembro de 2009, se instale uma quarta urna para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que aprove uma nova Constituição política? A consulta foi desautorizada pelo Congresso e pelo Judiciário. Entretanto, Zelaya decidiu realizá-la, ainda que seu valor fosse meramente simbólico. Como os militares se recusaram a distribuir as urnas, o presidente demitiu o chefe do Estado Maior Conjunto, Romero Orlando Vasquez Velasquez. Este não acatou a ordem e teve o apoio dos demais comandantes, assim como do Congresso e do Judiciário e o expulsaram do país de pijama.

Lula – além da corrupção (exclui-se o termo “denúncias”), não há nenhum respeito pelos princípios constitucionais, como moralidade, legalidade, impessoalidade, entre outros. Recuso-me a estender esse assunto já por todos conhecido. Apenas ressalvo que a última indicação do presidente Lula ao STF (defensor da CF/88) é réu em dois processos por danos ao erário e ex advogado do PT, o que nos leva a crer seu profundo conhecimento de como burlar a Carta Magna.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tempo III

Abaixo contribuição de um querido amigo à temática tempo: Tony Cleber dos Santos


AS PIRUETAS DE SATURNO COM SEUS MALABARES

“(...)Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”

( Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Às vezes, me ponho a lembrar-me de mim mesmo nos meus gostos, minhas visões, fantasias e opiniões como eram nalgum ponto pretérito, para meu espanto e íntimo deleite de tê-las como hoje não são. Esforço-me por recuar muito longe, até quando, pequenino, duvidando da minha própria existência, como se sofresse encosto de algum filósofo racionalista do século XVIII, me beliscava em tardes avulsas, estateladas no meio da semana. Olhava para o céu, para o chão e sabia que eu estava, mas me indagava se era; não sabia se o chão firmava - o que, afinal firmaria o chão? -, ou se, caminhando até o horizonte, as nuvens podia alcançar. Quase completamente possuído pelo tal demônio filosófico, concluía que a beliscada doía mesmo.

Lembro-me de como adorava feijão e de como, hoje, esse prato me é indiferente. Também me lembro que fui socialista camaradinha dos camaradas dos DCEs e de como passei por algumas variantes quase heréticas de pensamento político, sem jamais ser nazista, diga-se. Hoje sou constitucionalista; mais um auto-rótulo para administrar tanta mudança. Por que mudamos assim? Por que mesmo varrendo-nos a pó todos os dias pela porta de nossas casas ainda ousamos atender à mesma alcunha? Pelo menos a mim, não deixa de ser estranha a idéia de mudar e mudar, e trocar de pele, cabelo, e alma, pois me parece que de alguma forma compramos a idéia de que há uma essência de ser e também a de que existe um ponto de amadurecimento. Mas quando é que chegamos a esse ponto? Espero que não seja na hora de cair do pé....
Ademais essas pequenas mudanças que dão sabor à existência, podemos pensar que tanta camaleonice pode ser indício de falta de princípios. Para rebater essa possível autocrítica, sempre imaginamos, em benefício de nossa própria imagem, que nossas variações nos conduzem a uma evolução, a um aprimoramento do espírito, da inteligência ou da sensibilidade. De fato, observo que não mudamos ao sabor das conveniências. Habitamos nossas crenças; são a base de nossa existência. No entanto, sabemos apenas porque muda o camaleão.
Obviamente, não estaria aqui gastando as pontas dos dedos se não enxergasse um problema nisso. A questão, porém, é que esse problema não está nas mudanças que por mais espantosas que sejam, sempre estiveram na ordem do dia e, de certa maneira, ou a elas nos resignamos ou criamos a ilusão de que somos sempre os mesmos. O que nos intriga é como podemos manter identidade mediante tantas mudanças, de que forma eu ainda sou o menino que gosta de feijão. O que tudo isso significa, a que conduz? Há, de fato, uma evolução de nosso desenvolvimento, um aprimoramento moral, um amadurecimento? Se assim é, como pode ser que eu – homem feito - posso ainda mudar, e até retroceder? Na verdade, de todas as indagações, é essa última a que mais cansa.
Freud, Piaget, Vygotski; nenhum desses eminentes pensadores, na narrativa desse desenvolvimento, vai muito além da adolescência, que, nessas teorias, termina por ser a última edição, aquela em que o ser está pronto para o mundo, seja por já ter suas funções reprodutivas amadurecidas, seja por já poder compreender e elaborar conceitos abstratos e executar funções mentais superiores e com isso adquirir um bom nível de sociabilidade e senso de responsabilidade. Além disso, se for aplicado e estudioso, terá um selo do Ministério da Educação.
No entanto, o caniço pensante segue seu caminho solitário em sua busca de si, de um sentido, um conforto, um sentimento de estar no lugar certo, de maneira que nunca estamos maduros até que tombemos do galho. Parece-me muito mais sábia a noção, expressa pelo defunto autor machadiano, de que nossa última versão é a que a terra consome. A vida, em suas múltiplas estações, nos molda, burila, e encera, até que, com ou sem surpresa, vem a sinistra nos fotografar a feição desenhada no último hausto, na última descarga neural.

A vida, o tempo... O que nos fascina é essa dimensão de ser que não é apenas duração. Qual é o princípio ativo do tempo? Quem não toma desse remédio?

Todas as nossas angústias provêm da recusa do tempo. Resistimos a ele porque o tempo sempre exige de nós uma atitude que, geralmente, contraria a disposição que trazemos no âmago. Isso ocorre em todas as fases de nossa vida, desde o nascimento até a morte.
Tenho carregado essa reflexão comigo pelos últimos três anos, desde quando percebi em mim uma mudança na percepção das coisas, mudança tão repentina e radical como quando, por volta dos dezoito anos, senti que se fosse para viver uma vida inautêntica não valeria a pena viver, e assim passei a me construir, a tecer a minha existência pautado por esse princípio. Aos vinte e um, eu era a própria bandeira tremulando loucamente: Derrube os muros!
Aos dezoito ocorreu-me o prenúncio de uma transformação muito significativa para mim. A matemática mística dessas “private copernican revolutions” nos ensina que era a crise dos vinte e um, crise da auto-afirmação. Todas as crises são marcadas por prenúncios que culminam no paroxismo da própria crise. Os auges podem ser registrados com maior ou menor precisão num ciclo de sete anos, segundo a teoria das crises setênicas. O que começou aos dezoito culminou aos vinte e um anos com a consolidação de uma independência financeira que trouxe a sensação de que tudo podia alcançar e que deveria abraçar a vida e dela esgotar as possibilidades, transformando-a na busca incessante da experiência totalizante, que no fundo é ânsia de morte. Simples assim. Freud.
Nessa fase, quer se conhecer os dois lados de tudo, e para conhecer a Deus não se hesita em invocar Satã, para se obter prazer, não se cansa de desafiar a dor. Poucos são aqueles que extraem as vantagens dessa fase, por estarem muito ligados a preconceitos e moralismos que lhe tolhem essa capacidade. O trânsito entre os opostos propicia um ponto de vista privilegiado àquele que souber tirar proveito disso, além de possibilitar maior autoconhecimento por meio da diversidade de experiências a que se expõem. Quando isso me ocorreu, trazia a vantagem de as bases da minha vida adulta estar firmadas e a consciência de que havia pessoas sobre as quais eu tinha responsabilidade, a qual assumi plenamente. Não coloquei isso como obstáculo a consecução dos meus objetivos. Auto-afirmação. Lembro-me até hoje do dia em que percebi isso. Liguei para uma amiga que havia conquistado quando inaugurei minha vida autêntica e disse com profundo alívio que havia solucionado, dentro de mim, um dilema. Faltavam poucos meses para completar vinte e um anos. O ciclo, portanto, havia se fechado e eu estava pronto para me assumir com um ser humano em busca da auto-realização, em busca da felicidade.
Entretanto, o tempo transcorre e o ser percebe-se sempre de forma diferente no tempo: não tarda para que o desafio lançado à dor mostre sua outra face: a obsessão, o desatino, o absurdo. Vê-se que não dá para mascarar a dor com falsos riso, ( na verdade, gritos de desespero), pois sente-se que se lança numa busca que parece cada vez mais distante...Tudo é dor. Cansa-se da superficialidade, começa o existencialismo. Percebi o início disso por volta dos 25 anos. Mais uma vez, o prenúncio precede a crise em três anos. Nessa fase, a experiência mais profunda pode ser a do pensamento, de modo que muitas pessoas podem mudar suas opiniões políticas, religiosas, seus hábitos, pois coloca em cheque toda a base que orientou sua ação até então, não raro o pensamento pode dar giros indo-se de A a Z para voltar a A novamente. Essa inquietação é sintoma do questionamento radical de si e das coisas que se leva a efeito nessa fase. O sentido de tudo isso é um só: alçar-se acima da dor. Essa fase que se estende dos vinte e cinco até os 28, quando se dá a revolução de saturno, o “novo nascimento”, é crucial, pois todo um ciclo cármico se fecha. É onde estou agora. Tenho vinte e oito. Mas alguns ainda dizem que somente quando se chega aos vinte e nove e se sai dessa zona nebulosa é que podemos enxergar com mais clareza tudo quanto se passou. Como naquela letra de Renato Russo numa música da Legião.

Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
Já que você não me quer mais
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove com o retorno de saturno
Decidi começar a viver
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar e a pedir perdão
E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez

Ainda que a razão de tudo isso não seja um louco astro da via láctea dando piruetas e equilibrando vinte e nove malabares, podemos sentir em nós esse desabrochar de uma nova pessoa, essa moção que nos abate e fortalece, tornando-nos algo curioso para nós mesmos.

domingo, 31 de maio de 2009

Trânsito Primaverense



Fim de semana novamente visitei um famoso bar localizado entre a cruz e a praça. Durante duas horas de lero-lero conseguimos perceber a quase pexada (dicionário gaúcho é necessário para leitura deste blog) em diversas situações, todas envolvidas no queijinho que separa duas avenidas. As rotatórias substituem os semáforos que já existiram em nossa cidade, mas que não receberam boa aceitação da população local e com razão, já que moramos no interior e não desejamos parar no sinal vermelho e nos estressar com a possível multa que ocorreria de uma parada desnecessária, já que o movimento ocorre em determinadas horas do dia e ainda sem filas, engarrafamentos e outras situações exigíveis de sinaleiros.



Mesmo que quase ninguém respeite a faixa de pedestres em nossa cidade, até mesmo porque as mesmas não nos respeitam, alguns pedestres aparecem, como que num passe de mágica atravessando a rua em nossa frente. Freamos e olhamos atentamente, os míopes têm mais dificuldade, mas se olharmos com bastante atenção perceberemos que aquele pedestre não esta atravessando a rua na rua e sim, na faixa, sempre desbotada e mal sinalizada, quando não também com localização irregular.


A rotatória também localizada entre a cruz e a espada teve um pequeno sinistro enquanto eu estava no referido boteco. Para que uma moçoila utilize seu direito de atravessar a rua na faixa, um motorista teve o dever de frear no meio da rotatória, o que fez com que o motorista que estava atrás do mesmo, que observava as demais moças do buteco encostar em sua traseira. A sorte é que enquanto caçava as belezas da calçada (sim, em nossa cidade os bares têm mesas em calçadas) guiava lentamente seu auto, caso estivesse um pouco menos interessado ou com um pouco mais de pressa o acidente teria conseqüências mais desastrosas.


Dizem que no trânsito brasileiro o que há é falta de educação, tratam a mesma como algo que se diagnostica: para os brasileiros cinco comprimidos ao dia; para europeus meia dose diária. Solicito encarecidamente aos leitores que exijam que o dinheiro público seja investido em planos de sensibilização, treinamento e principalmente fiscalização no trânsito. Gastem menos filosofia de boteco com o termo educação e mais com cobrança e participação na gestão dos recursos públicos.


Para explanar o porquê não creio no termo educação como o problema descrevo o caso das faixas de Primavera do Leste e Tangará da Serra. Ambas são cidades pequenas de Mato Grosso com perfis semelhantes de população história, cultura e base econômica. Lá as faixas são utilizadas, até os ciclistas empurram a pé suas bikes pelas mesmas e existe uma foto divulgada em cartões telefônicos na qual cães estão atravessando a faixa. Aqui, os ciclistas pedalam na contramão, no meio das ruas e a situação das faixas já foi descrita. Será que o problema é educação ou gestão?

Tempo II



Pink Floyd
Composição: Mason, Waters, Wright, Gilmour

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone the song is over, thought I'd something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells

Tempo I

"Ver/que tudo pode retroceder..." Vanessa da Mata




Hoje a crise dos 28 terá um foco nas mitologias greco-romana e africana. Os que me conhecem sabem que estou em busca do meu entendimento interior ao longo da(s) crise(s). Uma das loucuras foi sentir-me integrada ao tempo, o que começou a acontecer quando, de repente, achei que minha vida seguiu um rumo distante de meus planos iniciais e que ele me faltava, ou melhor, que o mesmo existe e é essa percepção que se ausentou ao longo de minha ínfima existência.
Estou iniciando a vida adulta solitária e completamente discrepante daquela imaginada. Exemplo disso é que há dez anos eu programei um filho para um ano e isso não aconteceu, há cinco programei para hoje e hoje eu não percebo a possibildade de reprojetá-lo. Há um amadurecimento nisso? Seria esse o segredo da maturidade: deixar de sonhar? Afinal, eram eles: os sonhos, que me mantiam no erro, já que permitiam projetar um futuro diferente, como se ele fosse separado do presente ou ainda do passado.

É justamente o entendimento completo dele: o Tempo que me proibiu de pensar o futuro separadamente dos outros tempos, já que todos, principalmente o pretérito imperfeito, são responsáveis pela minha completa (in) satisfação. Assim, eu decedi mudar o presente para abafar o passado e programar o futuro, inclusive o futuro do pretérito. As mudanças são lentas, amigas do tempo - não do Deus Tempo, mas sim daquele estabelecido pela humanidade: aquele que nos orienta a crescer, nos reproduzir e morrer, ou ainda a plantarmos uma árvore e ter um filho. É esse o tempo que me falta, em todos os sentidos, pois o outro, não o tenho: já eu o sou, e é Ele quem me ensinou que devo construir e não esperar.

Ele é conhecido em diversas culturas, mas para mim significa o entendimento do interior, portanto, da responsabilidade individual de transformação, principalmente do presente, criador dos outros. Para outras culturas pesquisadas, segue:

Na cultura Yoruba
O tempo é representado por uma grande árvore com raízes que saem do chão, e são envoltas com um grande Alá (pano branco), este é um IROKO, que é fundamental necessidade a sua existência numa casa de candomblé. Este Orixá não tem qualidades, e representa o tempo: é primeira dádiva da terra (Odudua) aos homens. Iroko é a essência da vida reprodutiva, do poder da terra. Alguns mitos dizem que Iroko é o cajado de Odudua, a Terra, que através dele ensina aos homens o sentido da vida. É também a permanência dentro da impermanência e impermanência na permanência. O ciclo vital, que não muda com o transcorrer da eternidade. A infinita e generosa oferta que a natureza nos faz, desde que saibamos reverenciá-la e louvá-la. Quatro é o número da Terra; quatro foram os dias que Olorum levou para criar o mundo, quatro são as estações do ano: verão, inverno, outono e primavera; quatro são os elementais da natureza: fogo, água, terra e ar. Ligado a este número quatro, está o Orixá Tempo, que é senhor das estações do ano; regente das mutações climáticas. Tempo está sempre em movimento. Tempo está ligado ao meio ambiente, pois qualquer choque ambiental tem a sua regência. Ligado intimamente aos quatros elementais da Natureza, Tempo viaja por todos eles, num movimento constante, alterando infinitamente o tempo. Sem esse movimento, viveríamos o mesmo segundo sempre, melhor, “sempre” não existiria. Com o tempo parado, não poderia existir vida de nenhuma espécie. A este Orixá, também chamado de Kitêmbo, foi designado e controle do ambiente, a passagem dos segundo, minutos e horas, dando sentindo aos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios.
Mitologia greco-romana
Saturno, ou Chronos é conhecido também como maléfico, já que trata de responsabilidade, assumir compromissos, optar pela maturidade. Saturno completa o seu ciclo em 28 anos, e nos influencia de forma contundente de 7 em 7 anos, a partir da data do nosso nascimento. Quando nascemos, registra-se em nosso mapa astral o ponto do Zodíaco aonde Saturno estava. Sete anos mais tarde, ele está a 90º daquele ponto, formando a primeira quadratura - é quando mudamos a dentição e damos o primeiro passo no sentido de estruturar a personalidade. Mais tarde, aos 14 anos, é hora de abandonar a infância e entrar na adolescência. Aos 21 chegamos à maioridade reconhecida legalmente e conquistamos novos direitos e deveres, mas é aos 28 anos que vivemos o tão falado “retorno de Saturno”- hora em que o planeta passa pelo ponto do céu aonde estava na ocasião do nosso nascimento. Astrologicamente, este é um momento relacionado à depressão, a um sentimento de opressão social, a sensação de que não daremos conta das responsabilidades herdadas da cultura em que nos criamos. Porém nem sempre é assim. Se pensarmos em Saturno como um personagem, ele seria uma espécie de “tutor”, alguém que volta de tempos em tempos para nos cobrar realizações. Se conseguimos nos tocar aos 21 anos e começamos a caminhar para assumir aquilo que é responsabilidade nossa, quando Saturno chegar (aos 28 anos), não será para “puxar nossa orelha” mas sim para nos dar uma força, para ajudar-nos a nos estruturar internamente. Quanto mais relutamos em aceitar a maturidade e todas as suas implicações, tanto mais dura será para nós a experiência do retorno de Saturno.

Chronos surgiu no princípio, formado por si mesmo. Era um ser incorpóreo e serpentino possuindo três cabeças, uma de homem, uma de touro e outra de leão. Uniu-se à sua companheira Anaké (a inevitabilidade) numa espiral em volta do ovo primogénito separando-o, formando então o Universo ordenado com a Terra, o mar e o céu. Permaneceu como um deus remoto e sem corpo, do tempo, que rodeava o Universo, conduzindo a rotação dos céus e o caminhar eterno do tempo, aparecendo ocasionalmente perante Zeus sobre a forma de um homem idoso de longos cabelos e barba brancos.
Os romanos chamaram-lhe Saturno e por isso, o planeta que atualmente é conhecido com este nome, foi outrora chamado "Khronos" pelos astrónomos gregos. Era a divindade celeste mais distante, considerada como sendo o sétimo dos sete objectos divinos visíveis a olho nu. Uma vez que tem a maior translação observável no céu (cerca de 30 anos), os astrônomos gregos e romanos julgaram tratar-se do guardião dos tempos, ou "Pai do Tempo", uma vez que não havia conhecimento de nenhum outro objeto com maior período repetitivo (translação). Foi precisamente esta característica astronômica que levou os eruditos das artes a representar a sua figura como um homem de idade com longos cabelos e barbas brancas, tal como mencionado acima. Daí veio também a palavra crônica seguida de Chronos.

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Lenine

domingo, 10 de maio de 2009

Química

Existem líquidos que não se misturam, como a água e o óleo, por exemplo, ou ainda a água escaldante e a gelada que são lançadas dos chuveiros dos hotéis. Existem químicos capazes de misturá-los, todos esses líquidos, se não sob a superfície terrestre, ao menos em nossas percepções de realidade.

Estes alquimistas destroem conceitos, viram as razoes de ponta cabeça e transformam o mundo, fazendo com que pensemos ser possível nos apaixonar novamente.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tradição

"É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO"
(Albert Einstein)

Dancei um baile gaúcho com o conjunto “Os Serranos” e me emocionei muito, acredito que pelo fato de que, depois de tanto tempo morando em Mato Grosso, praticamente já havia esquecido o quanto sou apegada à cultura sulista. A música e as pilchas me remeteram a um passado de CTGs, danças e poesias. A nostalgia tomou conta de mim a ponto de recordar-me de quando eu guria, mas já me sentindo “adulta”, ainda não gostava do amargo do chimarrão e o engolia, apenas para participar da roda de conversas tradicional no final da tarde e, é claro, aproveitar para roubar um cafuné.

Ao decorrer do fandango, de excelente qualidade musical, fui sentindo-me mais uma vez arraigada à cultura gaúcha por inteiro, mais que apenas ao futebol e ao mate (que ainda são presentes no cotidiano). O problema é que minha consciência das culpas e erros intrínsecos nas tradições foi despertada por diversas vezes, com auxílio do Serrano Edson Dutra e seus comentários: piadas contra o homossexualismo (mais especificamente contra homens que usam brincos, "afeminados"), a afirmação de que Graças a Deus os presentes não têm crianças especiais, mas que devem contribuir para a APAE e elogios ao nosso excelentíssimo prefeito, que segundo ele, só é “bem falado” na cidade. Acreditar que ter filhos especiais é um castigo divino é tão ignorante quanto pensar que a administração municipal é perfeita e reta. Meu problema com tradição é esse: ela nos cega, de forma que nos tornamos preconceituosos e elitistas sem que nos demos conta disso. Há uns dias atrás um grande amigo (matogrossense e homossexual) comentou que quando me conheceu eu era mais elitista e parei para analisar que também era mais tradicionalista naquela época.

Tradição vem do latim “entregar”, melhor traduzida como transmitir. Ela se baseia em dois pressupostos: o de que as pessoas morrem e o de que há necessidade de um nexo de conhecimento entre as gerações. Assim, as crenças, costumes e valores de um povo são seguidos conservadoramente e com respeito através das gerações. Moral deriva do latim mores, que significa "relativo aos costumes". "Moral" não traduz, no entanto, por completo, a palavra grega originária êthica. É que êthica possuía, para os gregos, dois sentidos complementares: o primeiro derivava de êthos e significava, numa palavra, a interioridade do ato humano, ou seja, aquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a partir de dentro do sujeito moral. Por outro lado, êthica significava também éthos, remetendo-nos para a questão dos hábitos, costumes, usos e regras, o que se materializa na assimilação social dos valores. A tradução latina do termo êthica para mores "esqueceu" o sentido de êthos (a dimensão pessoal), privilegiando o sentido comunitário da atitude valorativa, da mesma forma que a tradição sulista nos exige um padrão de comportamento “moral” único, que permite uma identificação praticamente imediata.

Através de erros e acertos os indivíduos e até mesmo as sociedades estabeleceram comportamentos ideais, morais e os repassaram a seus descendentes que não sabem a origem dos mesmos. Exemplo da construção desses paradigmas:

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, no centro uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o batiam nele. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia a escada. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. O segundo foi substituído e assim sucessivamente até que o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.
Para que possamos entender melhor a crítica à moralidade, podemos citar a Genealogia da Moral, de Nietzsche, a qual tece uma crítica à moral vigente a partir do estudo da origem dos princípios morais que regem o Ocidente desde Sócrates. Para ele há duas classes: a dos senhores e a dos escravos. A classe senhorial divide-se em guerreira e sacerdotal. A classe sacerdotal deriva da primeira, e define-se pela impotência, inventando assim o espírito, enquanto que a classe guerreira pratica as virtudes do corpo. As duas classes são rivais. Desta rivalidade surgem duas morais: a dos senhores e a dos escravos, já que a casta sacerdotal mobiliza os escravos (os débeis e enfermos) contra os guerreiros, que são a classe dominante. Esta mobilização é possível pela inversão dos valores, criando uma moral escrava, que tem início com o povo judeu, e é herdada e assumida pelo cristianismo. Somente desta maneira o sacerdote consegue triunfar sobre o guerreiro. Os débeis, segundo o autor, transformam a impotência em bondade, a baixeza em humildade, a covardia em paciência. Dizem que sua miséria é uma prova, uma bem-aventurança, uma eleição. Introduzem a idéia de culpa, mas eles mesmos são inocentes. Sua obra-prima é a idéia de justiça: eles são os justos e odeiam Nietzsche critica a moral como uma contra-natureza, que é a moral da tradição cristã e socrática; a moral platônico-socrática; a idéia de uma ordem moral do mundo; e que nega a vida, justificando-se em deus. Tais aspectos da moral são, para o autor, um passo da humanidade para trás.

Há muitos passos para trás na tradição sulista (aliás, em todas as tradições), entre eles o preconceito racial, ainda muito presente, a discriminação com o homossexualismo e também com sexo feminino, já que a liberdade da mulher é extremamente podada para que a mesma possa efetivamente representar uma prenda para seu gaúcho. São hábitos morais que sempre questionei e que acho que devem ser mais bem analisadas pelos conservadores para que haja efetivamente uma construção de valores reais e úteis na sociedade atual. Só sei que não irei lavar a louça, bordar, obedecer a uma ordem ridícula de uma pessoa mais velha e muito menos desprezar os homossexuais sem me questionar o porquê desses comportamentos.