domingo, 31 de maio de 2009

Tempo I

"Ver/que tudo pode retroceder..." Vanessa da Mata




Hoje a crise dos 28 terá um foco nas mitologias greco-romana e africana. Os que me conhecem sabem que estou em busca do meu entendimento interior ao longo da(s) crise(s). Uma das loucuras foi sentir-me integrada ao tempo, o que começou a acontecer quando, de repente, achei que minha vida seguiu um rumo distante de meus planos iniciais e que ele me faltava, ou melhor, que o mesmo existe e é essa percepção que se ausentou ao longo de minha ínfima existência.
Estou iniciando a vida adulta solitária e completamente discrepante daquela imaginada. Exemplo disso é que há dez anos eu programei um filho para um ano e isso não aconteceu, há cinco programei para hoje e hoje eu não percebo a possibildade de reprojetá-lo. Há um amadurecimento nisso? Seria esse o segredo da maturidade: deixar de sonhar? Afinal, eram eles: os sonhos, que me mantiam no erro, já que permitiam projetar um futuro diferente, como se ele fosse separado do presente ou ainda do passado.

É justamente o entendimento completo dele: o Tempo que me proibiu de pensar o futuro separadamente dos outros tempos, já que todos, principalmente o pretérito imperfeito, são responsáveis pela minha completa (in) satisfação. Assim, eu decedi mudar o presente para abafar o passado e programar o futuro, inclusive o futuro do pretérito. As mudanças são lentas, amigas do tempo - não do Deus Tempo, mas sim daquele estabelecido pela humanidade: aquele que nos orienta a crescer, nos reproduzir e morrer, ou ainda a plantarmos uma árvore e ter um filho. É esse o tempo que me falta, em todos os sentidos, pois o outro, não o tenho: já eu o sou, e é Ele quem me ensinou que devo construir e não esperar.

Ele é conhecido em diversas culturas, mas para mim significa o entendimento do interior, portanto, da responsabilidade individual de transformação, principalmente do presente, criador dos outros. Para outras culturas pesquisadas, segue:

Na cultura Yoruba
O tempo é representado por uma grande árvore com raízes que saem do chão, e são envoltas com um grande Alá (pano branco), este é um IROKO, que é fundamental necessidade a sua existência numa casa de candomblé. Este Orixá não tem qualidades, e representa o tempo: é primeira dádiva da terra (Odudua) aos homens. Iroko é a essência da vida reprodutiva, do poder da terra. Alguns mitos dizem que Iroko é o cajado de Odudua, a Terra, que através dele ensina aos homens o sentido da vida. É também a permanência dentro da impermanência e impermanência na permanência. O ciclo vital, que não muda com o transcorrer da eternidade. A infinita e generosa oferta que a natureza nos faz, desde que saibamos reverenciá-la e louvá-la. Quatro é o número da Terra; quatro foram os dias que Olorum levou para criar o mundo, quatro são as estações do ano: verão, inverno, outono e primavera; quatro são os elementais da natureza: fogo, água, terra e ar. Ligado a este número quatro, está o Orixá Tempo, que é senhor das estações do ano; regente das mutações climáticas. Tempo está sempre em movimento. Tempo está ligado ao meio ambiente, pois qualquer choque ambiental tem a sua regência. Ligado intimamente aos quatros elementais da Natureza, Tempo viaja por todos eles, num movimento constante, alterando infinitamente o tempo. Sem esse movimento, viveríamos o mesmo segundo sempre, melhor, “sempre” não existiria. Com o tempo parado, não poderia existir vida de nenhuma espécie. A este Orixá, também chamado de Kitêmbo, foi designado e controle do ambiente, a passagem dos segundo, minutos e horas, dando sentindo aos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios.
Mitologia greco-romana
Saturno, ou Chronos é conhecido também como maléfico, já que trata de responsabilidade, assumir compromissos, optar pela maturidade. Saturno completa o seu ciclo em 28 anos, e nos influencia de forma contundente de 7 em 7 anos, a partir da data do nosso nascimento. Quando nascemos, registra-se em nosso mapa astral o ponto do Zodíaco aonde Saturno estava. Sete anos mais tarde, ele está a 90º daquele ponto, formando a primeira quadratura - é quando mudamos a dentição e damos o primeiro passo no sentido de estruturar a personalidade. Mais tarde, aos 14 anos, é hora de abandonar a infância e entrar na adolescência. Aos 21 chegamos à maioridade reconhecida legalmente e conquistamos novos direitos e deveres, mas é aos 28 anos que vivemos o tão falado “retorno de Saturno”- hora em que o planeta passa pelo ponto do céu aonde estava na ocasião do nosso nascimento. Astrologicamente, este é um momento relacionado à depressão, a um sentimento de opressão social, a sensação de que não daremos conta das responsabilidades herdadas da cultura em que nos criamos. Porém nem sempre é assim. Se pensarmos em Saturno como um personagem, ele seria uma espécie de “tutor”, alguém que volta de tempos em tempos para nos cobrar realizações. Se conseguimos nos tocar aos 21 anos e começamos a caminhar para assumir aquilo que é responsabilidade nossa, quando Saturno chegar (aos 28 anos), não será para “puxar nossa orelha” mas sim para nos dar uma força, para ajudar-nos a nos estruturar internamente. Quanto mais relutamos em aceitar a maturidade e todas as suas implicações, tanto mais dura será para nós a experiência do retorno de Saturno.

Chronos surgiu no princípio, formado por si mesmo. Era um ser incorpóreo e serpentino possuindo três cabeças, uma de homem, uma de touro e outra de leão. Uniu-se à sua companheira Anaké (a inevitabilidade) numa espiral em volta do ovo primogénito separando-o, formando então o Universo ordenado com a Terra, o mar e o céu. Permaneceu como um deus remoto e sem corpo, do tempo, que rodeava o Universo, conduzindo a rotação dos céus e o caminhar eterno do tempo, aparecendo ocasionalmente perante Zeus sobre a forma de um homem idoso de longos cabelos e barba brancos.
Os romanos chamaram-lhe Saturno e por isso, o planeta que atualmente é conhecido com este nome, foi outrora chamado "Khronos" pelos astrónomos gregos. Era a divindade celeste mais distante, considerada como sendo o sétimo dos sete objectos divinos visíveis a olho nu. Uma vez que tem a maior translação observável no céu (cerca de 30 anos), os astrônomos gregos e romanos julgaram tratar-se do guardião dos tempos, ou "Pai do Tempo", uma vez que não havia conhecimento de nenhum outro objeto com maior período repetitivo (translação). Foi precisamente esta característica astronômica que levou os eruditos das artes a representar a sua figura como um homem de idade com longos cabelos e barbas brancas, tal como mencionado acima. Daí veio também a palavra crônica seguida de Chronos.

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Lenine

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