quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Aposentadoria

A respeito de meu desejo de nada; meu contínuo cansaço e desmotivação; minha covardia de sentir, escrevi:

Anestesia, meus sentimentos a cada dia
Cinesia, continuar mesmo vadia
Ausência, minha existência
Fundem-se o desejo de permanecer no ópio
e a ânsia de não mais frustrar-se com ódio
Aposentadoria (Dayani Guero)

Após escrever essas linhas lembrei de Hilda Hilst e desisti. Segue para análise, imploro a não comparação, leitores:

Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica:
O amor, a fome, o átomo, o câncer.
Tudo vem a tempo no seu tempo.
Tenho pedido às crianças mais sossego
Menos riso e muita compreensão para o brinquedo.
O navio não é trem, o gato não é guizo.
Quero sentar-me e ler nesta noite calada.
A primeira vez que li Franz Kafka
Eu era uma menina. (A família chorava).
Quero sentar-me e ler mas o amigo me diz:
O mundo não comporta tanta gente infeliz.
Ah, como cansa querer ser marginal
Todos os dias.
Descansem anjos meus.
Tudo vem a tempo
No seu tempo.
Também é bom ser simples.
É bom ter nada.
Dormir sem desejar
Não ser poeta. Ser mãe. Se não puder ser pai.
Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica.
Mas o homem
Não cansa.
Roteiro do Silêncio
Do amor contente e muito descontente(Hilda Hilst)

Um comentário:

Fernando Malheiros Dal Berto disse...

Você continua pegando pesado. Me emocionou e calou. Obrigado!